vila rica

COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA

SEGUNDO TRIMESTRE DE 2021


Lição 12

Fé da aliança

Autor: Gilberto Theiss

Introdução

As palavras de 1 Pedro 1:18 retratam as mais profundas verdades sobre a condição humana, a impossibilidade de alcançarmos a salvação por nós mesmos e a magnitude da ação divina para resgatar o perdido. O enfoque de Pedro evidencia o abismo existente entre o valor infinito da riqueza do sangue de Cristo e a insignificância das riquezas humanas. O apóstolo contrastou as coisas perecíveis (como o dinheiro), que facilmente iludem as pessoas, com a preciosidade do sangue de Cristo. As riquezas perecem. Até certo ponto, podem comprar grandes coisas, trazendo a falsa sensação de segurança e conforto, porém não podem remediar o problema da culpa e a mácula da transgressão diante de Deus. A riqueza pode, entre tantas coisas, comprar um juiz e a absolvição de uma sentença, mas não pode comprar a graça que nos isenta da sentença do juízo divino. Quanto ao sangue de Cristo, não se trata de mera substância com elementos celulares, mas do que ele realmente significa e representa. Na perspectiva humana, o derramamento de sangue significa morte e a renúncia da própria vida porque, sem ele ninguém pode viver (Lv 17:11). No caso de Cristo, o significado se torna infinitamente superior, pois retrata o livramento que extrapola a mera essência terrestre.

O efeito da Sua morte é o livramento do Seu povo primeiramente no aspecto espiritual. O povo de Deus foi liberto da maldição da transgressão da lei (Gl 3:13), do pecado (Ef 1:7) e da morte eterna (Rm 8:2). As Escrituras ensinam que Deus apresentou Jesus como sacrifício para demonstrar Sua justiça (Rm 3:25). Em Cristo, o próprio Deus cumpriu as exigências da Sua santa lei para remover a maldição que estava sobre Seus filhos. Através de Sua vida perfeita, Cristo supriu as exigências da justiça da lei transgredida e, através de Sua morte e ressurreição, adquiriu o direito de sepultar nossa velha vida e ressuscitar nossa nova vida Nele. Dessa forma, a severa ira de Deus contra o pecado foi desviada do pecador arrependido.

A fé do patriarca Abraão

As impressões de Paulo sobre a justificação pela fé em Romanos 4:1-7 nos ensinam algumas lições significativas:

1. Abraão é o “nosso pai segundo a carne” (Rm 4:1), o exemplo mais notório a ser imitado. Abraão não era um personagem simples para a fé judaica, mas o modelo de tudo o que um bom judeu deveria ser. Paulo explorou isso de maneira marcante.

2. Se a justificação de Abraão tivesse ocorrido por causa das suas obras, ele não teria glória diante de Deus, mas diante dos homens, e não daria glória a Deus, mas a si mesmo (Rm 4:2). Nesse modelo de suposta salvação, o homem se torna o centro da glória com mérito próprio.

3. Paulo conduz os judeus ao que eles mais veneravam: as Escrituras (Rm 4:3). A sua retórica traz ao centro da discussão a Palavra de Deus: “O que dizem as Escrituras?”, indagou Paulo. Sob essa premissa, o apóstolo evidenciou que o que nos torna verdadeiramente justos diante de Deus não é a realização das obras que a lei estabelece, mas a simples confiança e submissão completa à bondade de Deus em nos redimir gratuitamente, mesmo quando não realizamos nada para merecer.

4. A resposta Paulina deve ter causado muitas perturbações teológicas, pois o que Paulo afirmou foi contra tudo o que os judeus da época ensinavam a respeito de salvação – “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Rm 4:3). O apóstolo falou que, se eles quisessem saber, de fato, o que era fé deveriam olhar para aquele que era um dos fundamentos da teologia rabínica, pois, em seus pensamentos, Abraão ocupava uma posição única e fundamental. Ele era o homem com quem Deus havia falado, dando-lhe instruções diretas. A lógica de Paulo, com base em Gênesis 15:6, era que Abraão confiou plenamente em Deus. Ele realizou uma aventura de fé. Não discutiu, não hesitou e simplesmente saiu sem saber para onde iria (Hb 11:8). Não foi a obediência meticulosa do patriarca às exigências da lei que o colocou em posição especial para com Deus, mas sua plena confiança Nele.

Cristo, nossa segurança eterna

As lições do Antigo Testamento permanecem quando Jesus é comparado a um cordeiro “sem mancha ou defeito” (Êx 12:5; 29:1, 38; Lv 1:3, 10; 3:1, 6, 9; 4:3, 14, 23, 28, 32; 5:15, 18; 12:6; Nm 15:24; Ez 43:22). A palavra “sem defeito” (tamiym) significa literalmente “completo, total, são, saudável, sem defeito, inocente e íntegro” (Strong, Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong [SBB, 2002]), que traz a ideia de perfeição, ou seja, o Antigo Testamento reforça o pensamento de que Cristo, o verdadeiro “Cordeiro que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29), foi o sacrifício perfeito. Com base em 1 Pedro 1:19 entendemos que:

1) Jesus “foi o sacrifício perfeito por causa de Sua vida perfeita” (Thomas Schreiner, 1, 2 Peter, Jude [Broadman & Holman Publishers, 2003], p. 87).

2. Pedro utilizou a palavra “sem defeito” (amomos) que também significa “perfeito e irrepreensível” (Arndt, W., Danker, F. W., Bauer, W., & Gingrich, F. W. A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian literature [University of Chicago Press, 2000], p 56).

3. Paulo, Pedro e Moisés se harmonizam no sentido de atribuir a perfeição ao Antítipo, que era exemplificado no tipo.

As Escrituras ensinam que não há um justo sequer e que a humanidade, por causa do mal existente no coração, é incapaz de realizar o bem (Rm 3:10). Dessa maneira, o Antigo Testamento já revelava que a humanidade é impura (Jó 25:4) e injusta (Is 64:6). Ellen White confirma esse raciocínio ao declarar que:

1. As faculdades do ser humano foram pervertidas, sua natureza enfraquecida pela transgressão e, em essência, era impossível resistir ao mal (Caminho a Cristo [CPB, 2013], p. 17).

2. A natureza de Adão e Eva ficou depravada pelo pecado (Patriarcas e Profetas [CPB, 2006], p. 32).

3. Por causa do pecado, sua posteridade nasceu com inerentes tendências para a desobediência (Francis Nichol, The Seventh-day Adventist Bible Commentary, [Review and Herald, 1980], v.5, p. 1131).

4. O homem não pode satisfazer as exigências da santidade (Santificação [CPB, 1980], p. 90).

5. Não podemos obedecer perfeitamente a uma lei santa. Não possuímos justiça em nós mesmos para satisfazer as exigências da lei (Caminho a Cristo [CPB, 2013], p. 62.

6. Não pode satisfazer as reinvindicações da santa lei divina (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2007], p. 540).

7. Em sua pecaminosidade, a humanidade não pode guardar a lei. Por isso não podia justificar a si mesma (Patriarcas e Profetas [CPB, 2006], p. 268).

Paulo foi enfático em Romanos 8:7 ao afirmar que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus”. Ele retratou com honestidade sua condição: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7:24); “Se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7:20).

Por isso, Deus entra no cenário humano para, com Sua vida pura, santa e perfeita, alcançar o que estava completamente perdido. A humanidade precisava de uma solução que estivesse além da própria esfera humana. A única solução seria:

a) A perfeição de Cristo no lugar da nossa justiça imperfeita (Is 45:24, 25; Rm 3:21, 22; 1Co 5:21);

b) A obediência perfeita de Cristo no lugar da nossa obediência imperfeita (Rm 5:19);

c) A santidade de Cristo no lugar da nossa impureza (Hb 2:11; 10:10);

d) A vida justa de Jesus no lugar da nossa vida injusta (1Pe 3:18);

e) A vida perfeita de Cristo no lugar da nossa vida imperfeita (Hb 10:14).

Conclusão

Quando Jesus concedeu a visão a alguns cegos, eles saíram das trevas. Quando Jesus restaurou alguns homens das enfermidades do corpo, eles deixaram de ser enfermos do coração. Quando Jesus tocou a consciência de alguns ricos, eles deixaram a pobreza de espírito. Da mesma forma, quando Jesus concede justificação ao ímpio, sua impiedade é banida no juízo divino. A graça nos liberta da condenação que seria certa, caso Jesus não nos substituísse no altar do sacrifício.