vila rica

COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA

SEGUNDO TRIMESTRE DE 2021


Lição 11

O santuário da nova aliança

 Autor: Gilberto Theiss

Introdução

Certa vez, quando uma família passeava de carro, pelas proximidades de um aeroporto, a filha de apenas 10 anos disse: “Papai, passou um avião por cima da gente!” O pai, por não entender, achou engraçado e lhe perguntou: “Como você sabe? Por acaso você viu o avião?” Ela respondeu: “Eu não vi o avião, mas eu vi a sombra dele passando sobre nós” (José Pereira, A cruz antes da cruz, [2004], p. 9). A exemplo dessa história, o estudo de hoje apresenta os elementos espirituais mais relevantes da aliança de Deus no contexto do santuário. De acordo com as Escrituras, os serviços do santuário eram sombras de realidades superiores. Embora tenham sido caracterizados como sombras, eles expressam verdades reais, concretas, eternas e profundamente espirituais.

Deus conosco

Em Êxodo 25:8, encontramos uma das declarações bíblicas mais surpreendentes. O mundo rebelde foi alvo da misericórdia e bondade de Deus. O Senhor poderia ter virado as costas e lançado este planeta nos confins do Universo. Mas, ao contrário disso, Ele instruiu Moisés a construir um santuário para Sua habitação no meio do povo. A palavra “santuário” (miqdash) significa lugar sagrado. A palavra que vem em seguida, “habitar” (shakan), significa habitação permanente. Essas duas palavras sugerem que Deus trouxe a Sua habitação sagrada para uma instalação duradoura e efetiva com Seu povo. É curioso notar que shakan está intimamente ligada à palavra shekinah, usada para descrever a manifestação da glória divina acima do propiciatório, servindo de símbolo para a presença de Deus no acampamento (ver Êx 25:22 e Ellen White, Patriarcas e Profetas, p. 349).

Embora o santuário terrestre servisse como centro visível de adoração ao único Deus verdadeiro, contrapondo, dessa maneira, a falsa adoração, a sua principal razão de existência era tipificar a presença de Deus em plano salvífico na vida ou no templo humano. As Escrituras ensinam que Deus sempre procurou morada com os homens (Sl 132:13-16), especialmente nos seus corações (1Co 3:16,17; 6:19). O Santuário terrestre, por exemplo, com a presença de Deus, apontava para Cristo, que “habitou” (skenoo), literalmente “tabernaculou” entre os homens (Jo 1:14).

Neste mundo caótico em que muitos pais abandonam os filhos e muitos filhos abandonam os pais, encontramos o Deus Santo, com Suas ações santas, transferindo Sua habitação santa para permanecer entre os humanos pecadores. É como se a morada de Deus tivesse sido transferida para a Terra.

O ministério de Cristo na Terra e no Céu

A frase “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22) é uma forte evidência de que a aliança de Deus com a humanidade sempre foi pela graça. A antiga aliança, a exemplo da nova aliança, também foi sancionada com sangue (Lv 17:11). Ambas foram ratificadas com sangue. Embora tenha sido utilizado o sangue de animais, a antiga aliança tipificava plenamente a redenção por intermédio de Cristo no santuário celestial, pois, no projeto divino, o Cordeiro tinha sido morto desde a fundação do mundo (Ap 13:8). No Antigo Testamento, ninguém podia comparecer perante o Senhor sem estar amparado pelo sangue de animais derramado no santuário terrestre. De igual modo, hoje somos amparados pelo sacrifício superior de Cristo (Hb 9:23) aplicado em nosso favor, no “verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hb 8:2). Na Terra, Cristo proveu Seu sacrifício e o sangue expiatório, e no Céu Ele realiza a aplicação desse sacrifício. Como nosso Sumo Sacerdote, Jesus advoga a causa de todos os que se achegam a Ele em arrependimento sincero. O juízo investigativo, termo tradicionalmente utilizado na teologia adventista, diferente do julgamento dos ímpios, é o período em que Cristo está no Céu julgando positivamente a causa dos Seus filhos, absolvendo-os através de Seu próprio mérito. A esse respeito Ellen White escreveu: “Jesus aparecerá como seu Advogado, a fim de pleitear em favor deles perante Deus [...]. Jesus não lhes justifica os pecados, mas apresenta o seu arrependimento e a sua fé, e, reclamando o perdão para eles, ergue as mãos feridas perante o Pai e os santos anjos, dizendo: ‘Conheço-os pelo nome. Gravei-os na palma das Minhas mãos’ [...] Cristo vestirá Seus fiéis com Sua própria justiça, para que os possa apresentar a Seu Pai como ‘igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante” (Ef 5:27; Ellen White, O Grande Conflito [CPB, 1988], p. 482, 484, 485).

Nosso Substituto

As Escrituras ensinam que a humanidade havia sido criada na condição mais nobre e exaltada, à “imagem e semelhança de Deus” (Gn 1:26, 27). Portanto, nesse estado de pureza, Adão e Eva eram reflexos do bem existente em Deus.

Entretanto, devido à fatalidade do pecado, a humanidade deixou de ser “imagem” de Deus para se tornar “imagem” da própria humanidade caída (Gn 5:1-3; Ec 7:29). Agora, na condição mais baixa e perdida, o ser humano deixou de ser puro (Jó 25:4), com o senso de justiça maculado (Is 64:6), rendido à injustiça e incapaz de praticar o bem (Rm 3:10). Mas nosso Salvador, na condição de Sumo Sacerdote e Advogado, por Sua bondade, nos concedeu elevadas bênçãos:

a) Sua justiça perfeita no lugar da nossa justiça imperfeita (Is 45:24, 25; Rm 3:21, 22; 1Co 5:21);

b) Sua obediência perfeita no lugar da nossa obediência imperfeita (Rm 5:19);

c) Sua santidade no lugar da nossa impureza (Hb 2:11; 10:10);

d) Sua vida justa no lugar da nossa vida injusta (1Pe 3:18);

e) Sua vida perfeita no lugar da nossa vida imperfeita (Hb 10:14).

A respeito disso, Ellen White escreveu:

“Não possuímos justiça em nós mesmos com a qual pudéssemos satisfazer as exigências da lei de Deus. Mas Cristo nos proveu um meio de escape. Viveu na Terra em meio a provas e tentações como as que sobrevêm a nós. Viveu sem pecado. Morreu por nós, e agora Se oferece para nos tirar os pecados e nos dar Sua justiça. Se vocês se entregarem a Ele e O aceitarem como seu Salvador, serão então, por pecaminosa que tenha sido sua vida, considerados justos por Sua causa. O caráter de Cristo substituirá o caráter de vocês, e serão aceitos diante de Deus exatamente como se não houvessem pecado" (Ellen White, Caminho a Cristo [CPB, 1999], p. 62). Ela também relatou que “a lei requer justiça – vida justa, caráter perfeito; e isso o homem não tem para dar. Não pode satisfazer as reivindicações da santa lei divina. Mas Cristo, vindo à Terra como homem, viveu vida santa e desenvolveu caráter perfeito. Ele oferece esses elementos como dom gratuito a todos quantos o queiram receber. Sua vida substitui a dos homens” (Ellen White, O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2005], p. 762).

Conclusão

A única exigência exigida por Deus de Adão no Éden foi a obediência. A condição única de vida eterna antes do pecado era a obediência. Contudo, o único fundamento de domínio que o pecado adquiriu na humanidade, levando-a à queda e à morte, foi a desobediência. A causa única da maldição que recai no ser humano é a desobediência. Todo o poder destrutivo do pecado que age em nós, herdado de Adão, é o que resulta da desobediência. A causa única de perdição eterna que sobrevém a todos é a desobediência. Portanto, é evidente que a ação mais notória exigida de nosso Redentor foi que Ele viesse exatamente para destituir o fundamento de toda miséria – a desobediência. Esse foi um dos objetivos centrais da obediência perfeita de Cristo e de Seu sacrifício expiatório: salvar o ser humano da condenação, cortando definitivamente, através de Sua vida perfeita, a raiz da desobediência, restaurando o ser humano ao Seu projeto original. Agora, em alegria e gratidão, no poder de Cristo, realizamos boas obras para glorificá-Lo em nossa vida (Mt 5:14-16).