vila rica

COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA

SEGUNDO TRIMESTRE DE 2021


Lição 9

O sinal da aliança

Gilberto Theiss

Introdução

O mandamento sabático aponta para o dever de organizar o tempo do modo exemplificado pelo próprio Deus (Gn 2:1-3). É um dia em que algumas das rotinas comuns da vida devem ser substituídas, não por ociosidade nem mera recreação, mas pela consagração particular ao serviço divino.

Uma vez que esse mandamento lida com o tempo, além de separá-lo dos demais dias, a expressão “lembre-se” pode indicar a recordação do passado, que se sustenta no presente e que se mantém ou se transpõe ao futuro, indicando sua permanência constante e inalterada. É igualmente importante observar que a menção do sábado, em conexão com a entrega do maná, em Êxodo 16:23-30, indica que ele já era conhecido ou observado no período que intercala o Sinai, quando o mandamento foi escrito, e a criação da Terra, quando “Deus abençoou o sétimo dia e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, tinha feito” (Gn 2:3).

O mandamento, que já era rememorado, foi retomado no Sinai como um dia de solene adoração a Deus que deveria ser continuado semanalmente. Guardar o dia do Senhor, além de reconhecer nossa dependência do Criador, significava também receber a identidade divina de santidade ou pertencimento (Ez 20:12, 20). Realizar as nossas próprias atividades em seis dias, separando o sétimo para finalidade espiritual, contrastava com a escravidão dos israelitas no Egito, quando, presumivelmente, eles não tivessem nenhuma interrupção em sua rotina diária. A base desse mandamento é que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo (Gn 2:2, 3; Êx 16:23). Esse não seria um dia de inatividade negligente, mas de serviço espiritual por meio de observâncias religiosas.

Origem

Em Gênesis 2:1, 2, o sábado é descrito como o dia que foi tão abençoado e santificado a ponto de se tornar o berço do descanso divino. A palavra hebraica para “descansar” significa “cessar” ou “terminar”, porém, uma vez que a Divindade não “Se cansa, nem Se fatiga” (Is 40:28-31), é lógico pensar que o descanso sabático possua significados que vão além do próprio sentido da palavra. Nesse caso, o ato de “cessar” não deve significar um momento de inatividade que se inicia, mas uma importante e sublime conquista. Seria como um atleta que faz todos os preparativos para alcançar o podium. O momento da chegada, na linha final do percurso olímpico, não é um momento de inércia, mas de festa, comemoração e alegria da conquista. Deus festejou a grande conquista da relação íntima com a Sua obra prima – a humanidade. O sábado foi estabelecido para fundamentar a aproximação que o Criador deseja ter com o ser humano. Isso revela o amável interesse de Deus em nos mantermos sempre muito próximos Dele.

O sábado antes do Sinai

A instituição do sábado é tão antiga quanto a criação, dando origem à divisão semanal do tempo que prevaleceu em todas as eras. É uma lei sábia e benéfica, favorecendo aquele intervalo habitual de descanso que a natureza do homem e dos animais requerem, e cuja desconsideração leva à degeneração prematura. Além do mais, a exemplo da necessidade do descanso físico, esse dia favorece, mais especialmente, o descanso espiritual, da relação próxima da humanidade com Deus.

A importância do sábado se revela mais intensamente no tempo de sua origem, pois, se era necessário em um estado de inocência, quanto mais agora, quando a humanidade, em seu estado físico e mental degenerado, também desenvolveu tendências para permanecer distante de Deus. Nos dias atuais, há pessoas que não veem muita relevância no descanso sabático, porém, se realmente o sábado não tivesse tamanha relevância, por que Deus Se preocuparia em resgatá-lo para o povo de Israel quando este foi levado ao deserto (Êx 16:22-28)? Aos olhos humanos, haveria outras prioridades? É provável que sim, mas para o Criador, ao levar o povo de Israel para o deserto, Ele entendeu que o sábado era uma prioridade. Como foi registrado em Êxodo 16:22-28, o mandamento do descanso no sétimo dia, o sábado, foi antecipado antes que a lei fosse dada no Sinai (Êx 20:1-17). Isso nos ensina que, do ponto de vista divino, o sábado possui extraordinária relevância.

Sinal da aliança e de santificação

O sábado é o mandamento mais longo nas tábuas da lei, ocupando cerca de 30% da escrita. Comparado aos demais mandamentos, o sábado é completo em seu propósito e significado, o que pode ser observado em suas três divisões encontradas em Êxodo 20:

a) Êxodo 20:8 contém as instruções sobre o que necessitamos fazer;

b) Êxodo 20:9, 10 explica como devemos obedecer essas instruções;

c) Êxodo 20:11 justifica por que precisamos cumprir o mandamento.

Além de ocupar a maior fatia das tábuas, o sábado é, sem dúvida, o mandamento que mais abrange o significado da aliança, pois ensina que:

a) Há apenas um Deus – “Senhor, teu Deus” (Êx 20:10);

b) Ele é o Criador – “o Senhor fez os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles há” (Êx 20:11);

c) É usado como representação do descanso da fé – “Não faça nenhum trabalho” (Êx 20:10); “Esforcemo-nos por entrar naquele descanso” (Hb 4:11);

d) E nos convida a repousar das nossas obras (Êx 20:8). A graça faz eco no mandamento sabático porque sua origem e propósito vão além do mero descanso físico, convidando a humanidade a descansar ou se deleitar no Senhor, no Autor da lei (Is 58:13, 14).

e) Dessa forma, o mandamento se torna sinal de santificação (Ez 20:12, 20), pois nos convida para uma relação próxima com Deus. A exemplo de um casamento, a relação próxima e constante é transformadora, construindo maturidade e fortalecendo o amor. Nesse caso, a relação íntima do pecador com Deus deve gerar conhecimento que, por sua vez, despertará amor revigorante e poder regenerador.

Conclusão

Com tanta correria e preocupações, não é difícil esquecer a importância do dia de sábado. Quando isso ocorre, deixamos de louvar e agradecer a Deus por ter nos trazido à existência. Mas o quarto mandamento é um lembrete, é o memorando de Deus para nos lembrar do presente da graça que foi dado em nossa criação e em nossa redenção. Lembrar envolve mais do que aspectos cognitivos, mas exige relacionamento com o Autor da criação e da graça. Lembrar do sábado é lembrar do nosso aniversário, pois a cada sábado é dia de comemorarmos nosso surgimento na história da vida. Não é suficiente dizer “Oh, sim, eu me lembro – é o meu aniversário!” É necessário festejar, como em um jantar especial à luz de velas, entre você e o Criador do Universo.

Gilberto Theiss