vila rica

COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA

PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2021


Auxiliar da Lição 8
Consolem o Meu povo

Foco do estudo: Isaías 40:1-3

Esboço

Todo o livro de Isaías está repleto de falas contrastantes sobre juízo e boas-novas da salvação. No entanto, a primeira parte do livro trata principalmente da mensagem do juízo divino em relação a Judá. A segunda parte contém a mensagem do consolo divino a Seu povo. Isaías 40, que vem logo após a primeira seção (Is 1–39), serve como uma introdução aos capítulos seguintes.

A mensagem do Senhor começa com um dos dizeres mais revigorantes e consoladores da Bíblia: “‘Consolem, consolem o Meu povo’, diz o Deus de vocês” (Is 40:1). Essa mensagem lembra o povo de Deus de Sua fidelidade à aliança.

O autor faz alusão à experiência israelita no deserto. Naquela época, nem o povo nem mesmo Moisés podiam ver a glória do Senhor, mas então “toda a humanidade a verá” (Is 40:5). Este estudo está dividido em três seções, intituladas: (1) Da destruição ao consolo, (2) Preparem o caminho e (3) A glória do Senhor revelou.

Comentário

Da destruição ao consolo

A mudança de ênfase nos temas destacados no livro de Isaías é bem conhecida.

A maioria dos comentários bíblicos menciona o contraste dos tópicos entre a primeira parte (Is 1–39) e a segunda parte (Is 40–66) do livro. Vários estudiosos usam esse ponto para defender uma autoria dupla. Contudo, observa-se que Isaías, como os demais profetas pré-exílicos, transmite uma mensagem na qual evidencia-se um aspecto duplo.

Por um lado, os profetas pré-exílicos são mensageiros do juízo, de modo que proclamam o fim da era das bênçãos e favores divinos. Mas também são arautos da salvação, e proclamam uma nova era de generosidade divina. Portanto, o discurso profético desses mensageiros é uma mistura de oráculos de juízos e salvação; e é isso que vemos no livro de Isaías.

Não há razão para não apoiar a teoria que coloca Isaías 40 no período pré-exílico, como uma promessa consoladora de uma restauração futura.

A seção anterior até Isaías 40 tem uma mensagem clara e distinta de juízo para Judá e as nações estrangeiras.

O Dia do Senhor virá. É iminente; o juízo está próximo. Não tardará muito e o melhor das nações, do povo e de seus recursos materiais serão repassados para outras mãos.

O livro anuncia claramente: “Meu povo será levado cativo por falta de entendimento” (Is 5:13). “Eis que virão dias em que tudo o que houver no seu palácio, isto é, tudo o que os seus pais ajuntaram até o dia de hoje, será levado para a Babilônia; não ficará coisa alguma, diz o Senhor” (Is 39:6).

No entanto, o Senhor, o Deus incomparável, porá fim às provações do Seu povo. Considerando que chegará o tempo da libertação, Isaías escreveu esta mensagem de misericórdia usando o recurso do paralelismo (Is 40:1, 2):

A. “Consolem, consolem o Meu povo,

B. Diz o Deus de vocês.

A’. Falem ao coração de Jerusalém”.

A misericórdia divina se fará evidente mais uma vez porque o Senhor declara “que o tempo da sua escravidão já acabou, que a sua iniquidade está perdoada e que ela já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados” (Is 40:2). A maneira enfática em que o Senhor deseja que essa mensagem seja comunicada ao Seu público é notável. Parece que ela é urgente, pois o autor usa o verbo imperativo qir?û, que pode ser traduzido como “proclamar”, “chamar”, “bradar”, “gritar” (Ludwig Koehler e Walter Baumgartner, The Hebrew and Aramaic Lexicon of the Old Testament [Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento], v. 3, p. 1129). A expressão vai além da ideia do verbo mais genérico “falar”. A expressão “Meu povo” é um indicador do relacionamento de aliança entre Deus e Seu povo. Deus é fiel aos deveres de Sua aliança de liderar e perdoar Seu povo.

Preparem o caminho

Uma seção central em Isaías 40 é a dos versos 3 a 5. Existe uma espécie de inclusio (subdivisão de texto marcada por linguagem ou elemento semelhante em seu início e fim) na unidade. “Preparem o caminho do Senhor!” (Is 40:3) e “a glória do Senhor se manifestará” (Is 40:5).

“Preparem o caminho do Senhor”. O contexto é a restauração de Judá. Essa é a jornada de volta do exílio. Nesta frase é usada a linguagem dos movimentos das figuras da realeza. Parece que algumas regiões com suas montanhas e colinas seriam um terreno difícil para um monarca e sua comitiva; assim, a frase “no ermo façam uma estrada reta” significa guiar, nivelar e livrar-se de obstáculos, como quando se prepara para receber um visitante da realeza (R. Laird Harris, ed., Theological Wordbook of the Old Testament [Dicionário de Palavras Teológicas do Antigo Testamento]. Chicago: Moody Press, 1980, v. 1, p. 417).

O caminho de Babilônia a Jerusalém é uma estrada agreste, permeada por montanhas e terrenos acidentados. Os filhos de Deus passariam por esses caminhos; por isso, é feito o pedido: “Preparem o caminho do Senhor! No ermo façam uma estrada reta para o nosso Deus!” (Is 40:3). O mensageiro pede uma estrada reta pois Judá precisa retornar sem grandes contratempos.

A linguagem pragmática usada nessa parte é digna de nota, principalmente as palavras associadas ao “caminho”. Dessa maneira, o autor tenta vincular a grande manifestação divina com elementos de uso comum. Tais expressões enfatizam a presença de um Deus invisível, mas real, mostrando assim que a participação de Deus na história de Seu povo também será real.

A glória do Senhor revelada

Em Isaías 40:3-5, parece que o profeta faz alusão a algumas das experiências dos israelitas durante a jornada no deserto, em particular o episódio em que Moisés pede para ver a glória de Deus (Êxodo 33:18-23).

Os israelitas receberam a ordem de sair do monte Horebe e seguir em frente. Deus disse a Moisés: “Suba deste lugar, você e o povo que você tirou da terra do Egito” (Êx 33:1), mas o Senhor avisou: “Eu não irei no meio de vocês” (Êx 33:3).

Parece que Moisés se sentiu desconcertado e, por isso, pediu ao Senhor: “Se alcancei favor diante de Ti, peço que me faças saber neste momento o Teu caminho” (Êx 33:13). E no verso 18, Moisés acrescentou: “Peço que me mostres a Tua glória”.

Moisés associa k??ô? a uma aparição visível do Senhor. Assim, neste caso, a solicitação não será concedida. No entanto, Deus responde no verso 19: “Farei passar toda a Minha bondade diante de você e lhe proclamarei o nome do Senhor; terei misericórdia de quem Eu tiver misericórdia e Me compadecerei de quem Eu Me compadecer”. No entanto, no verso seguinte, diz: “Você não poderá ver a Minha face, porque ninguém verá a Minha face e viverá” (Êx 33:20).

O autor do Pentateuco nos mostra como o Senhor redirecionou a questão. Deus destacou Sua revelação em termos de atributos, e não em termos de aparência externa. É como se Deus quisesse destacar a abstração de Seu ser, porque o Senhor não pode ser visto em termos concretos.

Em uma análise cuidadosa dessa perícope do Pentateuco, podemos ver algumas conexões ou influência entre ela e o texto de Isaías, particularmente Isaías 40. O elemento comum em ambas as perícopes é a expressão hebraica k??ô? YHWH (“a glória do Senhor”). Os aspectos mais notáveis aqui são os contrastes entre os dois relatos que Isaías destaca.

Enquanto em Êxodo, o caminho é apresentado como uma estrada áspera, cheia de pedras, em Isaías, a estrada é pavimentada, nivelada e toda a humanidade é capaz de perceber a glória do Senhor (ver Is 40:3-5). Isaías 52 oferece um contexto semelhante em relação ao capítulo 40 e até a Êxodo 33.

Isaías 52:10 diz: “O Senhor desnudou o Seu santo braço à vista de todas as nações, e todos os confins da Terra verão a salvação do nosso Deus”.

A conexão entre as três passagens é evidente. O primeiro elemento em comum é o caminho ou a estrada, mesmo que sejam retratados de maneira diferente. Em Êxodo 33, é um caminho difícil. Isaías 40 nos mostra um caminho tranquilo, e os caminhos em Isaías 52 são montes. Outro elemento em Êxodo 33 é que o Senhor mostrou as costas; por outro lado, em Isaías a mão do Senhor e Seu braço santo aparecem. Em Êxodo, Moisés mal pode ver a glória do Senhor, mas, em Isaías 40, toda a humanidade pode vê-la. Em Isaías 52, todas as nações também a podem ver. Em Isaías 40, é a glória do Senhor que é mostrada, enquanto em Isaías 52 é a Sua salvação. Assim, Isaías 52 esclarece o que k??ô? YHWH significa em Isaías 40. A humanidade é capaz de reconhecer a glória do Senhor; é o ato poderoso do Senhor de trazer salvação a Judá.

Neste ponto do nosso estudo é útil observar que a expressão “a glória do Senhor” tem mais de uma aplicação na Bíblia. Em alguns casos, a glória do Senhor se refere ao próprio YHWH e à Sua majestade a qual nem os serafins podem contemplar, e à Sua santidade oculta. No entanto, em outros contextos, principalmente em Isaías, a glória do Senhor é equivalente às Suas ações, importância e peso (literalmente) em meio ao Seu povo. Assim, Isaías amplia a ideia da expressão k??ô? YHWH. Ele deixa claro que a ação divina (libertação ou salvação) é tão real como se Ele estivesse ali. Sua promessa de agir em favor de Seu povo deve ser entendida como realismo total.

Aplicação para a vida

1. Deus falou com Seu povo de muitas maneiras no passado e, no presente, continua a transmitir Sua mensagem de conforto e perdão aos Seus filhos.

• Quais promessas bíblicas o confortam mais?

• Por outro lado, uma parte importante da mensagem para a nação de Judá é a garantia de que “a sua iniquidade está perdoada” (Is 40:2).

• Por que é importante que as pessoas recebam o perdão de Deus? (Leia Mc 2:9: “O que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os seus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levante-se, tome o seu leito e ande?’”; e 1 João 2:12: “Filhinhos, escrevo a vocês, porque os seus pecados são perdoados por causa do nome de Jesus”).

2. A frase “voz do que clama no deserto” (Is 40:3, ARA) foi interpretada no Evangelho de João (Jo 1:23) como uma referência ao anúncio de João Batista sobre a primeira vinda de Jesus. Ele fez isso pedindo às pessoas que se arrependessem e fossem batizadas na água como sinal de arrependimento. Como você está usando sua voz para proclamar as boas-novas?

3. Como a glória de Deus pode ser entendida à luz de João 1:14: “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai”.