vila rica

COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA

PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2021


Lição 5 – 23 a 30 de janeiro de 2021

O nobre Príncipe

Sérgio Monteiro

A lição desta semana se concentra na figura do Menino que nasceria para reinar. Ele é o foco do capítulo 9 e também dos capítulos seguintes, até o 12. Em nosso comentário desta semana, vamos discutir algumas intepretações alternativas para os versos 5 e 6 do capítulo 9 de Isaías e como identificar a que mais se harmoniza com o texto.

O contexto

O capítulo 8 termina em um contexto de falhas morais e religiosas do povo de Judá e, em consequência disso, a escuridão que viria sobre a terra. O capítulo 9:1 segue a narrativa, utilizando um contraste de resultados, no qual a escuridão deixa de existir, uma vez que o Eterno traria a glória de volta. Uma glória vista pelas nações, com libertação das aflições de guerra e o estabelecimento da paz.

O Príncipe da Paz

Novamente a profecia fala de um Menino, cujo nascimento está diretamente relacionado com o futuro de Israel. Essa criança seria um sinal da paz prometida no verso anterior, funcionando como penhor dessa paz. O verso 5 utiliza a preposição hebraica KI, que é retomada dos versos 1, 3 e 4, indicando uma sequência de ações interligadas, com a causa fundamental de todas elas sendo apresentada nos versos 5 e 6. É como uma leitura do efeito para a causa: tudo o que é descrito nos versos 1 a 4 é resultado do nascimento do Menino do verso 5.

Como pode um Menino ter tamanha responsabilidade? Ela não cabe a um rei, nem a qualquer ser humano. Necessariamente, portanto, o Menino precisa ser mais do que apenas um ser humano. Ele precisa ser Divino. E é isso o que Dele é declarado, ao ser-Lhe dado títulos como Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Nunca é demais enfatizar a força desses títulos. De forma clara, o Menino aqui é chamado por nomes que poderiam ser associados somente a Deus. Dada a incapacidade de enxergar a divindade do Menino, ou tendo por base pressuposições críticas, vários autores, dentre os quais o comentarista judeu Rashi, tentam fazer o verso dizer que Deus é o detentor dos títulos, não o Menino. Não obstante, a sintaxe hebraica é clara e direta: os títulos pertencem ao Menino, como reconhecia Ibn Ezra.

Os títulos do Menino são aplicados a Deus em outros lugares. Por exemplo, em Isaías 28:29, Deus é chamado de Maravilhoso em Conselhos. Em Isaías 10:21, é dito que o remanescente de Jacó se converterá ao Deus Forte (El Gibbor); em Daniel 7, o Eterno é chamado de Ancião de Dias, um sinônimo de Pai Eterno. Apenas Príncipe da Paz não parece ser aplicado ao Eterno Deus. Isso pode ser explicado ao observar que paz aqui advém da encarnação, algo que somente o Messias faria. Isaías 53 nos lembra de que o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele. Por isso, não é possível retirar o elemento messiânico dessa profecia.

Quando se cumpriu a profecia? Em toda Bíblia hebraica, não é possível encontrar nenhuma pessoa que contenha as características elencadas pelos oito termos hebraicos utilizados no verso 6. Somente a Pessoa de Jesus Cristo cumpre cada uma e todas as características citadas, conforme percebido pelos autores do Novo Testamento.

É possível que Jesus fosse esse Príncipe da Paz, quando a paz ainda não tinha vindo? Essa é uma objeção aparentemente válida. Não obstante, é preciso entender o que significa paz nas Escrituras. Ela é muito mais do que a simples ausência de guerras e exílios. O próprio capítulo 9, e os capítulos anteriores e posteriores, nos mostram que, no contexto bíblico, paz é algo muito maior e está relacionada com o restabelecimento da paz que se obtém com a reconciliação entre o homem e Deus. É a luz que brilha sobre a terra desolada e angustiada. Restringir a paz à ausência de guerra é deixar de perceber seu significado mais amplo e seu alcance universal.

Ademais, uma teologia ampla do livro de Isaías – e extensivamente da Bíblia hebraica – demonstra que o plano da redenção, que é realizado por meio do Messias, é obtido no processo histórico e não como um evento único. Encontramos nas descrições messiânicas elementos que parecem ser contraditórios, como sofrimento do Messias/reinado do Messias, morte do Messias/eternidade do Messias. Isso não faz sentido, a não ser que tenhamos descrições de momentos diferentes do ministério messiânico.

É por isso que, mesmo apresentando um quadro único da vinda do Messias, Isaías 11 precisa ser interpretado como contendo referências às duas manifestações do Messias, como foi bem acentuado em nosso guia de estudos. Em cada vinda, o Messias cumpre uma parte de Sua Missão. Se na primeira Ele é a Raiz de Jessé, na segunda Ele á Raiz de Davi, segundo o Apocalipse.

O plano da redenção é, portanto, uma obra histórica, também conhecida como história da redenção. Os seres com capacidade de reflexão histórica, nominalmente seres humanos, são chamados a cantar um cântico de resposta a cada ato salvífico de Deus, como no cântico do Mar em Êxodo 15, e no Cântico do Cordeiro, em Apocalipse. São cânticos de vitória e libertação, como o que encontramos em Isaías 12, que contém elementos semelhantes a esses cânticos, em diversos salmos e no cântico de vitória de Sofonias 3.

Esse curto poema é evocado como uma oração exatamente após a menção ao Êxodo, quando o grande cântico de libertação foi cantado pelos Israelitas, após a travessia do mar, e que entrou para a cultura religiosa e rituais anuais de Judá e Israel. Ademais, se as tradições de cópia dos manuscritos remontarem a esse período, é interessante mencionar que a própria forma do cântico do mar nos manuscritos reflete a ideia de que Deus foi um muro protetor e salvador ao redor de Seu povo. Novamente, o cântico é um convite à lembrança e reflexão histórica, e para que nunca nos esqueçamos de que a história de Israel era um caminho percorrido por eles de mãos dadas com o Eterno.

by Pr. Sérgio Monteiro