vila rica

COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA

PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2021


Lição 12 – 13 a 20 de março de 2021

O Desejado de Todas as Nações

Sérgio Monteiro

Por quê? Essa é a pergunta que brota do coração humano diante de situações que fogem de seu controle e que, de uma ou de outra forma, trazem desconforto ou dor. É uma pergunta que, de fato, não tem um ouvinte direcionado. Mesmo para o cristão, ela nem sempre é direcionada primariamente ou no primeiro momento para Deus. Ela é, de fato, quase uma catarse que não espera resposta, não sendo um meio para um fim, mas um fim em si mesma. Noutros casos, de fato, ela é dirigida a Deus, numa busca de compreensão da ação e da resposta de um Deus bondoso, infinito em poder, mas que parece estar insensivelmente silencioso e indiferente diante de nosso sofrimento. Esse é o “por quê” apresentado na lição desta semana.

A resposta de Deus para a pergunta de Seu povo é que Seu silêncio era causado por seus pecados. Todo o livro de Isaías demonstra que o pecado era (e é) o grande problema do relacionamento entre Deus e Seu povo. E o pecado não pode ser reduzido a meros atos de tropeço ou transgressão da lei. Não! De fato, o pecado, como nos mostra Isaías, é algo muito mais profundo e amplo do que isso. É a quebra da relação de confiança e aliança entre Deus e o povo. O pecado deve ser visto como o constante dar de costas a Deus e às Suas repreensões e convites. Atos são consequências, não causas. A causa é mais profunda: há uma quebra do relacionamento e isso causa silêncio.

Deus não tirou de Seu povo o direito ao protesto, mas apresentou que seu protesto seria inútil e vazio se não houvesse uma reaproximação Dele, refletida em mudança interna de cada pessoa, a qual devia aprender de Deus e receber Seu perdão. Ele pode ouvir e pode agir, mas Sua ação e Sua fala são percebidos e sentidos somente por aqueles que, como o próprio Isaías, passam pela experiência redentiva e purificadora de ter seus pecados perdoados.

Esse perdão, como é claramente expresso pelo próprio Deus, é sempre precedido de arrependimento (interno) e confissão (externa). Não pode haver inversão. O ato externo NUNCA pode ser a expressão primária nem antecedente do relacionamento reatado com Deus. Ele é efeito, não causa. Ele é resultado, não motivação. Ele é a materialização do invisível. O diálogo antifônico do capítulo 59 expõe de forma clara a correta sequência do restabelecimento da aliança com Deus. Os versos 1-8 apresentam a proclamação divina das causas da falta de resposta Dele para os sofrimentos e pedidos do povo. Já os versos 9-14, no hebraico, são plenos de verbos que expressam lentidão e reflexão, levando o leitor a entender que ali é o povo que parece cair em si e expressar arrependimento. O verso 15, iniciando com uma forma do imperfeito hebraico, parece retomar o discurso do Eterno enfatizando a realidade do que o povo havia declarado nos versos anteriores, expressando Sua indignação, mas também Sua aceitação do arrependimento e confissão. Nos versos subsequentes, adentrando ao capítulo 60, a figura preeminente é a de Deus agindo como Redentor em contraste com o sentimento do povo e em uma clara alusão ao verso 1 de Isaías 59: O Deus que parecia estar silente, agora estava trajado de vestes de guerra para lutar e redimir Sua nação e Seu povo e restabelecer a aliança com ele.

Como resultado de Sua ação, as próprias nações seriam atraídas para Sião. É interessante que a menção aqui não é a Israel, mas a Sião. Não é o povo em si que magicamente passa a ser visto de forma digna e honrosa, mas é a presença de Deus em Sião que torna esse lugar, essa nação e esse povo de tal forma sublimes que atraem reis e os fazem servir nesse lugar. Por isso, o Desejado de Todas as Nações não pode ser Israel, tampouco um governante humano. De fato, o livro de Isaías, em concordância com a história em Reis, Crônicas e Samuel, também possui uma característica histórica e literária marcante: ele denuncia que mesmo os mais justos dos reis não poderiam fazer de Israel algo que o tornasse agradável, atraente e justo para as nações. Todos os reis, inclusive Davi e Salomão, os paradigmáticos reis de Israel são pintados como falhos. Ezequias, mesmo confiando em Deus, ainda assim pensou de si algo mais do que ele mesmo era. A mensagem é clara: nenhum rei humano poderia fazer de Israel a nação que Deus desejava e elegera. Essa era uma transformação que apenas o próprio Deus poderia e iria fazer, através do Messias, do Redentor.

A menção a reis e nações no capítulo 60 acentua também o caráter universal da obra divina. Novamente, essa característica divina permeia o livro de Isaías: o Deus de Israel é também o Deus de todas as nações e, ainda que elas não O conheçam, Ele as conhece e Se interessa em seus destinos. Israel é, além de receptor primário das bênçãos divinas, um condutor das mesmas. Nenhuma benção a Israel excluiria as nações vizinhas, mas, vez após vez, as bênçãos são mencionadas no contexto de atração às nações. E isso é acentuado no Novo Testamento, através do conjunto de parábolas de Jesus narradas em Lucas 15 e 16. Na parábola do filho pródigo, em Lucas 15:11-32, o personagem principal é o filho mais velho, representando os judeus, enquanto o filho mais novo, que se afasta da casa do Pai são as nações. A menção aos porcos com os quais o filho mais novo se envolvia parece ser uma alusão à maneira pela qual os gentios eram chamados naquele tempo: porcos. A atitude do filho mais velho, por sua vez, era a atitude judaica comum diante de algum gentio que se aproximava do povo. Não havia recepção calorosa do gentio que se acercava do Pai. Ao contrário, muitos eram mantidos sempre como “convertidos”, como gentios “tementes” a Deus, mas jamais integrados ao Reino de Deus. E o Pai da Parábola, assim como o Eterno em Isaías, não se alegrava com essa atitude. Por quê?

Justamente na proclamação do ano aceitável ao Eterno, com sua ênfase redentiva, reside a resposta mais direta. No Yovel – ou ano do jubileu – todas as amarras de escravidão deveriam ser postas de lado e a proclamação de liberdade e descanso deveria ser feita. Era a terra que descansava, mas era o povo nela habitando que se beneficiava. Eram os escravos libertos, mas eram também os libertadores que podiam refletir sobre o que significou a saída do Egito para seus pais.

O termo hebraico ratson utilizado para “aceitável” em nossa tradução seria mais bem traduzido por vontade ou favor. A ideia é de cumprir a vontade ou ser favorável a alguém ou alguma coisa, ou ainda de cumprir a vontade e se satisfazer. No texto, o ano proclamado é o ano em que a vontade de Deus seria cumprida, através da proclamação da liberdade pelo Libertador e Redentor, que Se vestiu de vestes de justiça no capítulo 59. Portanto, o ano “favorável” é, de fato, o ano do cumprimento da vontade de Deus de salvar e libertar Seu povo. A vingança anunciada é sobre aqueles que os oprimiam, sendo também o tempo do consolo para os oprimidos.

Não pode haver mensagem mais equilibrada nem apresentação mais precisa de quem é Deus. Aquele que denuncia e apresenta os pecados de Israel é Ele mesmo a solução. Se não há um intercessor, alguém que se prontifique a estar entre os Céus e a Terra, Ele mesmo será essa ponte. Se ninguém possui a coragem para batalhar pela justiça e guiar na verdade, Ele se cingirá das vestes de Guerreiro e lutará para estabelecer a justiça e trazer a paz. Ele não Se exime de denunciar os pecados de Seu povo, porque ele pode prover a solução e Suas palavras podem alcançar corações e mudar mentes. Apenas as palavras Dele!

Pr. Sérgio Monteiro