LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA - TERCEIRO TRIMESTRE DE 2019

Lição 8: 17 a 24 de agosto

Meus pequeninos irmãos

Autor: Geraldo L. Beulke Jr.

Editor: André Oliveira Santos: andre.oliveira@cpb.com.br

Revisora: Josiéli Nóbrega

Até aqui construímos um conjunto de conhecimento bíblico sobre a razão ou fundamento para que o povo de Deus se preocupe com os aflitos, necessitados e oprimidos. São conceitos bíblico-teológicos, partindo de Deus, da criação, da queda e da redenção, que nos auxiliam a entender o tema da solidariedade e da responsabilidade social, e nos ajudar a tomar uma posição ativa e positiva sobre isso; são os princípios do Reino. Nesta semana, a partir do discurso de Jesus conhecido como Sermão do Monte, e de algumas parábolas, vamos estudar e conversar sobre a ética do Reino, ou seja, que tipo de comportamento Cristo espera que tenhamos.

O discurso sobre os cidadãos do reino

Um dos versos-chave para o enfoque do Sermão do Monte é Mateus 5:20, onde se lê: “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos Céus”. Essas palavras falam sobre o tipo de justiça que estudamos na poesia hebraica e nos profetas, demonstrada numa vida coerente, cujas crenças frutificam na prática, conectando a religião a toda a vida. Há três pontos dessa porção dos ensinamentos de Jesus que não podem passar por alto com relação à nossa responsabilidade social:

(1) Os discípulos de Jesus são o sal da Terra (Mt 5:13). Jesus remete as multidões a uma metáfora com implicações teológicas e práticas. Em seu aspecto teológico, o sal era um elemento presente em todas as ofertas do serviço de adoração (Lv 2:13; Nm 18:19) e se tornou um símbolo do pacto de salvação oferecido por Deus (2Cr 13:5). Em suas características cotidianas, ele era responsável pelo sabor (Jó 6:6), preservação e mesmo cura. Os discípulos de Jesus, como sal, são uma amostra dessa aliança de salvação para a humanidade, mas para podermos exercer esse efeito, precisamos conviver com pessoas às quais devemos servir e nos identificarmos com elas. Se permanecemos à distância, somos inúteis. Ao mesmo tempo, essa identificação não pode nos influenciar a ponto de perdermos o sabor, nossa identidade, e invalidarmos a aliança, pois assim também nos tornaremos inúteis. O texto de 2 Reis 2:19 a 22 é uma boa ilustração para esse ensinamento sobre o sal: Eliseu purificou as águas despejando o sal no manancial, ou seja, na fonte. Como sal, precisamos “despejar” nossa vida, vivida em Cristo, no manancial, ou seja, no coração daqueles que estão ao redor, trazendo cura, vida, alegria e amor.

(2) Os discípulos de Jesus devem praticar a regra de ouro (Mt 7:12). Havia, já nos dias de Jesus, uma versão da nossa conhecida “Regra Áurea”. Ela se expressava da seguinte maneira: “Não façam para os outros aquilo que você não quer para si”. A ênfase era em não fazer. Jesus dá a essa máxima um caráter positivo e ativo. Em outras palavras, aquilo que você deseja que lhe façam, faça você para os outros! Isso é tremendamente significativo para nossa temática, pois nos obriga a refletir sobre como queremos que nos tratem quando padecemos necessidades, aflições e opressão: almejamos acolhimento, encorajamento, assistência prática? Claro! Mas temos oferecido isso aos que padecem? Devemos amar aos outros com o mesmo empenho com que desejamos e buscamos nosso próprio bem-estar.

(3) Os discípulos de Jesus precisam crescer em amor incondicional (Mt 5:48). Alguém já afirmou que “as pessoas boas merecem nosso amor, as pessoas más precisam dele”. Temos a tendência de oferecer ajuda, independentemente do tipo que seja, apenas àquelas pessoas que julgamos merecedoras. E somos muito ágeis em retirar o auxílio se a pessoa ajudada não corresponde a nossa expectativa ou apresenta algum tipo de comportamento reprovável, segundo nossos padrões. Jesus nos ordena que almejemos o modelo divino, o qual supre as necessidades básicas, amorosamente, de bons e maus, justos e injustos.

Duas parábolas sobre os cidadãos do reino

Além dos preciosos princípios retirados do Sermão do Monte, duas parábolas de Jesus nos esclarecem sobre Sua visão de solidariedade.

(1) Na parábola do samaritano (Lc 10:25-37), aprendemos claramente que não nos cabe a pergunta “quem é o meu próximo?”, como uma tentativa de limitar ou restringir nosso círculo de responsabilidade. Precisamos correr o risco, como o samaritano correu. Ele sabia que, se as posições fossem inversas, provavelmente ele teria sido deixado à própria sorte, mas isso não foi um fator de impedimento para sua atitude, pois o homem foi movido por compaixão (Lc 10:33). Um coração no qual habita a compaixão deixa de planejar em torno do próprio eu e se abre para incluir até mesmo supostos inimigos no compartilhamento de suas provisões, dinheiro e tempo. Mais uma vez somos advertidos de que práticas religiosas sem a prática da justiça que vem de Deus não são aceitáveis pelo Céu (Mq 6:8).

(2) O texto de Lucas 16:19-31 não trata de imortalidade da alma. O judaísmo daqueles dias já havia sido contaminado com conceitos da filosofia grega e da helenização. Por isso, Jesus Se valeu dessa crendice como um meio didático para nos ensinar que: (a) a teologia vigente (Lc 18:25, 26) de que os ricos eram abençoados e os pobres divinamente castigados não era verdadeira. Por essa razão, Jesus inverteu as posições dos personagens no momento da recompensa (Lc 16:22, 23); (b) nossas oportunidades de fazer o bem têm a medida de uma vida, nada mais, nada menos (Lc 16:25); (c) o que nos rouba a vida eterna não é falta de revelação da parte de Deus, mas nossa dureza de coração e incredulidade diante da mensagem divina (Lc 16:28-31). Além disso, a atitude de indiferença do rico demonstra que o sofrimento e a crescente miséria ao nosso redor, sob a ótica do grande conflito entre o bem e o mal, não é culpa de Deus, mas, em muitos casos, de Seus mordomos, que procuram usar as bênçãos para seus próprios interesses, permanecendo indiferentes aos mais pobres.

Finalmente, com “Os cabritos e as ovelhas” (Mt 25:31-46) temos um fechamento sobre o estudo desta semana. É impressionante pensar que, como sal, demonstramos Jesus para os que carecem de uma vida com significado, mas os carentes, conforme essa exortação de Mateus 25, representam Jesus para nós, num sentido específico, o da resposta do amor. “A Mim o fizestes”, disse Ele, ou “a Mim o deixastes de fazer”. Esse é o teste final do amor. Nossa fé tem nos levado ao amor e a amar? Se não, ela será inútil!

Encerro com um parágrafo de autoria do Dr. Amin Rodor, das Meditações Diárias de 2014, do dia 25 de julho: “Jesus afirma: ‘Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se tiverdes amor’ (Jo 13:35). O apóstolo João declara: ‘Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte’ (1Jo 3:14). No primeiro texto, o amor revela quem somos, a nossa identidade. No outro, o amor revela onde estamos. Mostra se passamos da morte para a vida ou se permanecemos no reino das trevas e da morte. Em relação à prática do amor, quem é você e onde você está?” Essa é a essência da ética do Reino, o amor a Jesus que transborda de nós para os outros: “sempre que o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mt 25:40).

Conheça o autor do comentário: O pastor Geraldo L. Beulke Júnior