Leia: O ANO BÍBLICO com a bíblia NVI e a Meditação Matinal - Maranata, O Senhor Vem! - Ellen G.White

LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA - SEGUNDO TRIMESTRE DE 2019

Resumo da Lição 4
Como lidar com a solidão

Em algum ponto da vida o ser humano experimenta como é se sentir terrivelmente sozinho. Como administrar esses momentos? As perguntas podem ser desesperadas: “Onde está todo mundo? Eu sempre estarei sozinho? Onde está Deus?” A lição desta semana percorre o caminho da nossa necessidade de companhia desde agora até o Éden, onde Deus não criou uma pessoa, mas duas.

A solidão pode surgir a qualquer momento em nossa vida, não importando onde estejamos nem o que estivermos fazendo. Mas pode ser particularmente grave em determinados contextos: estar solteiro (a), viver a vida cristã com um cônjuge não cristão, estar divorciado ou perder uma pessoa amada. A lição oferece perspectivas bíblicas sobre esses momentos e incentiva a igreja a ser ativa na identificação de pessoas solitárias. O desafio é ministrar aos que sofrem, criando uma conexão com eles e conectando-os com o Senhor. Ninguém precisa sentir-se sozinho no corpo de Cristo. De fato, em Cristo todos que estão separados dos outros por alguma razão (relacionamentos quebrados, invalidez, distância, morte) têm a esperança consoladora de que um dia haverá um grande reencontro, e a palavra “solitário” se tornará ultrapassada.

No fim das contas, Deus é a resposta para a solidão. Mesmo as relações humanas, para ter a expressão mais saudável possível, exigem a presença de Deus. Talvez existam alguns autoconfiantes que sentem que podem administrar a vida totalmente sozinhos, sem Deus e sem outras pessoas, pensando que só precisam de si mesmos. O diário de um jovem do Alasca que procurou viver totalmente sozinho deveria nos fazer refletir sobre aqueles que escolhem o isolamento em lugar do companheirismo. Chris McCandless, depois de viver quase cem dias sozinho em um canto remoto do Alasca, EUA, escreveu sua revelação em um diário, antes de morrer de fome: “A felicidade só é real quando é compartilhada” (Jon Krakauer, Into the Wild [Em Território Selvagem] Nova York: Anchor Books, 1996, p. 189). Compartilhar nossa vida com Deus e uns com os outros enriquece todas as nossas experiências.

Escritura

O primeiro problema resolvido na Terra não foi a questão do pecado, mas a solidão (Gn 2:18). Depois de nove ocorrências da palavra hebraica tov (bom) na história da criação e do Éden, finalmente há algo que é lo-tov (não é bom) no paraíso. “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18).

Curiosamente, a expressão lo-tov (não é bom) não foi invocada novamente até o episódio em que Jetro repreendeu Moisés. Mais uma vez, a questão envolvia a solidão. O fardo do povo era pesado demais para Moisés. Então, Jetro falou francamente: “‘O que você está fazendo não é bom [...] essa tarefa lhe é pesada demais. Você não pode executá-la sozinho’” (Êx 18:17, 18, NVI). A realidade, especialmente depois da entrada do pecado, muitas vezes é pesada demais para ser suportada sozinho. E não está no projeto de Deus para a humanidade que a enfrentemos sem o apoio de outras pessoas.

A solidão no Éden era mais do que a solidão que todos nós experimentamos em algum momento, embora a inclua. A solidão de Adão, em alguns aspectos, está mais próxima à sensação de estar isolado em uma ilha, privado de todo tipo de relacionamento humano. Considerando que Eva também foi criada no sexto dia, a experiência de Adão de ser o único ser humano na Terra foi breve, mas tempo suficiente para acentuar seu apreço por sua recém-criada companheira.

Frequentemente, a história de Adão e Eva é reduzida a um comentário sobre o casamento. O aspecto de estar só, ali contido, é relegado exclusivamente à questão da condição de solteiro. Mas a criação de Eva não resolveu apenas o problema do estado de solteiro. Resolveu o problema da solidão humana. Eva não foi criada somente para ser esposa, mas também para ser amiga, parceira no trabalho (Gn 1:28), companheira espiritual e o centro da vida social de Adão, assim como ele representava tudo isso para ela. Esse fato é uma boa notícia para os solteiros. Muitos podem ter se sentido oprimidos pela proclamação divina, “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18), e a tenham recebido como uma virtual condenação da vida de solteiro. Isso não é verdade. Podemos estar solteiros e ainda assim não estar sozinhos por causa da presença humana da família, amigos e conhecidos, em nossos lares, igrejas e locais de trabalho.

A solidão também levantou sua cabeça no momento da tentação e queda. Há discordância entre os estudiosos quanto à presença de Adão com Eva durante a tentação da serpente. O argumento de que ele estava presente gira em torno de dois pontos: o texto que fala de Eva comendo do fruto e o dando também ao marido, e ele comendo “com ela” (Gn 3:6, ARC), e a serpente usando verbos plurais como se estivesse falando com mais de uma pessoa. O argumento para a ausência de Adão é que ele estava evidentemente ausente do diálogo e não apareceu nem como sujeito nem como objeto de nenhuma sentença na narrativa. Há um diálogo exclusivo entre Eva e a serpente: “Ela perguntou à mulher” (Gn 3:1, 4) e “respondeu a mulher à serpente” (Gn 3:2). A controversa frase “comeu com ela” (Gn 3:6, ARC) pode ser entendida em um contexto relacional e não espacial, como na maneira pela qual Adão recontou os acontecimentos a Deus: “A mulher que me deste para estar comigo, ela me deu da árvore, e eu comi” (Gn 3:12, Bíblia King James Version). Obviamente, o pronome “comigo” [não encontrado nas versões em português] significa “comigo como minha companheira”, e a expressão “com ela” nas palavras do narrador, provavelmente signifique a mesma coisa. O uso de verbos e pronomes plurais, por parte da serpente, mostra que o alvo de Satanás era Adão e Eva. O uso de plurais tornaria ainda mais surpreendente o silêncio de Adão, se ele realmente estivesse ali. Para um breve estudo sobre o assunto, ver Elias Brasil de Souza: Adão estava com Eva no cenário da tentação? Uma breve nota sobre “Com Ela” em Gênesis 3:6.

Assim como a solidão não era ideal na criação, ela foi um risco na tentação. Podemos concluir também que “não era bom para a mulher” estar só. Será que a queda poderia ter sido evitada simplesmente se Adão e Eva tivessem permanecido juntos? Talvez, sim. Ellen G. White diz: “Os anjos haviam advertido Eva de que tivesse o cuidado de não se afastar do esposo enquanto se ocupavam com seu trabalho diário no jardim; junto dele ela estaria em menor perigo de tentação do que se estivesse sozinha” (Patriarcas e Profetas, p. 53). Uma comunidade de fé, mesmo que composta de duas pessoas, oferece força espiritual e responsabilidade.

Quando o Senhor abordou Adão e Eva após o pecado, eles fizeram uma das coisas mais decepcionantes, porém mais profundas, mencionadas nas Escrituras: “Esconderam-se da presença do Senhor Deus” (Gn 3:8). O pecado criou uma condição autodestrutiva: um desejo de viver sozinho, sem Deus. Mas Ele não desiste assim tão facilmente, e os apelos dos profetas hebreus testificam esse fato. Deus atingiu o auge da Sua busca pela humanidade perdida na encarnação de Seu Filho Emanuel, Deus conosco (Mt 1:23). A encarnação ecoa a história do Éden. Depois que o pecado devastou o mundo, Deus viu que “não é bom” que o homem “esteja só”, assim como Ele havia declarado antes da entrada do pecado (Gn 2:18); então, Ele enviou um “Ajudador”, um que lhe correspondesse (compare com Patriarcas e Profetas, p. 46). A palavra para “ajudador” na Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento) em Gênesis 2:18 (boethos) é a mesma palavra usada em Hebreus 13:6: “O Senhor é o meu Ajudador”. Mas em vez de sucumbir às tentações da “serpente” (Mt 4:1-11), Jesus resistiu “até o ponto de derramar o próprio sangue” (Hb 12:4, NVI), de modo que um dia todos nós possamos ouvir estas palavras: “Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles” (Ap 21:3). Assim, nunca mais ficaremos sozinhos.

REFLEXÃO

Alguns se perguntam: “Se Deus é tão grandioso, por que a Sua companhia não foi suficiente para satisfazer todas as necessidades de Adão, excluindo a necessidade da criação de outro ser”? Essa é uma questão sobre a qual vale a pena refletir, mas a experiência mostra que a pergunta pode ser invertida. O fato de que Deus é todo-suficiente para nós individualmente, antecipa relacionamentos com os outros e nos prepara para entrar neles. Assim, nossa abordagem sobre os relacionamentos humanos virá de uma posição de plenitude e não de necessidade ou desespero. Muitas vezes os outros, especialmente parceiros românticos, são inconscientemente procurados para preencher necessidades que somente o Criador pode satisfazer. Então é melhor ter aquela água que Deus oferece. Afinal, Jesus disse: “Aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede” (Jo 4:14). Por quê? Porque a água que Jesus oferece se torna uma fonte na pessoa, “a jorrar para a vida eterna”. Jesus e Sua mensagem representam essa água. Sem ela, os relacionamentos podem se tornar distorcidos, ou pior, idólatras!

A ideia mencionada anteriormente é a base para enfrentar os vários cenários de solidão apresentados na lição: condição de solteiro, perda de um cônjuge devido ao divórcio ou à morte e estar espiritualmente solteiro, quando o cônjuge não é cristão. A maneira específica de lidar com cada uma dessas diversas experiências é singular. Ainda que sejam extremamente difíceis, elas se tornam suportáveis pelo conhecimento de que temos um Deus presente (At 17:27), que vê o que estamos passando (Gn 16:13), e que promete nunca nos deixar (Dt 31:6; Mt 28:20).

APLICAÇÃO PARA A VIDA

O nível em que estamos totalmente convencidos da cosmovisão cristã, tendo no centro um Deus profundamente dedicado e pessoal, é o mesmo nível em que a angustiante solidão pode ser amenizada. Todos nós nos sentimos sozinhos às vezes. Não há nada errado, em si, com essa experiência. Mas se Deus é real para nós, devemos ser capazes de testemunhar o sufocamento dessa solidão pelo senso da presença divina. Testemunhar esse fato pode ajudar as pessoas em sua classe da Escola Sabatina. Dê-lhes a oportunidade de compartilhar experiências de como Deus atuou na vida deles durante os tempos de solidão. Aqui estão algumas outras questões que nos desafiam a pensar na conexão entre Deus, nós, a solidão e a igreja:

1. O filósofo e teólogo Abraham Heschel intitulou seus dois livros sobre a filosofia da religião Man Is Not Alone [O ser humano não está sozinho] e God in Search of Man [Deus em busca do ser humano]. Não é mais difícil para uma pessoa sentir-se sozinha quando ela acredita que está sendo apaixonadamente procurada por outra? De que maneira você tem visto Deus indo atrás de você?

2. À medida que as sociedades em todo o mundo correm em direção ao secularismo, mais e mais pessoas veem o mundo em termos exclusivamente naturalistas (somente a natureza e suas leis existem, com a exclusão do sobrenatural ou de Deus). Essa visão tem um preço. Se o naturalismo é verdadeiro, estamos verdadeiramente sozinhos no Universo. Como o cristão pode usar o desespero existencial que o naturalismo produz a fim de conduzir as pessoas para Deus?

3. Enquanto o mundo frequentemente isola pessoas com base em aparências, etnias, classes sociais e econômicas, a igreja é chamada a abraçar afetuosamente essas mesmas pessoas (Gl 3:28). Como a igreja local pode se organizar para que as pessoas que sofrem com a solidão não passem despercebidas?