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COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA

3º Trimestre de 2024 - O EVANGELHO DE MARCOS


Auxiliar da Lição 4
Parábolas

TEXTOS-CHAVE: Marcos 1:15; 4:11, 26, 30 

FOCO DO ESTUDO: Daniel 7:27; 9:25-27; Marcos 1:15; 4:11-32 

ESBOÇO 

Introdução: Ao estudarmos as parábolas de Jesus em Marcos 4, notamos um tema importante: o reino de Deus. Esse tema é introduzido pela primeira vez em Marcos 1:14 e 15: “Jesus foi para a Galileia, pregando o evangelho de Deus. Ele dizia: – O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo.” Qual é o significado do Reino de Deus, conforme apresentado em Marcos? A resposta a essa questão será o tema central que estudaremos nesta semana. O exame desse assunto e do seu significado nos ajudará a compreender melhor as parábolas de Jesus. 

Temas da lição: O estudo desta semana analisará os temas do cumprimento do tempo e do Reino de Deus em seções selecionadas do evangelho de Marcos. Nosso estudo inclui duas seções: 

1. A alusão ao livro de Daniel na proclamação do reino de Deus. Nessa parte, estudaremos um possível contexto para a expressão de Marcos 1:15, “O tempo está cumprido”. 

2. O reino de Deus no evangelho de Marcos. Essa seção inclui uma análise contextual do termo “reino de Deus”, encontrado em Marcos 1 e 4. 

COMENTÁRIO 

A ideia do reino de Deus ganha destaque desde o início do evangelho. Marcos 1:15 declara: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo.” Outras referências ao reino de Deus incluem Marcos 4:11, 26, 30; 9:1, 47; 10:14, 15, 23, 24, 25; 12:34; 14:25. Portanto, o reino de Deus é um tema recorrente no evangelho de Marcos. 

A alusão ao livro de Daniel na proclamação do reino de Deus 

A visão de Daniel 7 apresenta explicitamente o tema do reino de Deus. O Filho do Homem, de acordo com Daniel 7:13 e 14, recebe um reino e – diferentemente dos reinos terrestres apresentados no início do capítulo – esse reino “jamais será destruído” (Dn 7:14). Essa visão celestial é tanto sobre o Filho do Homem quanto sobre o reino eterno. Além disso, está relacionada ao cenário terrestre em que o “chifre pequeno” tem domínio sobre a Terra e especialmente sobre os santos do Altíssimo; depois disso, o Filho do Homem vai até o Ancião de Dias para o juízo. Daniel 7:26 declara: “Será instalada a sessão do tribunal para lhe tirar o domínio.” Assim, o poder que persegue os santos perderá seu domínio. Essa cena de Daniel representa um ponto de virada na história do plano da salvação, retratando a vindicação do povo de Deus e o fim da soberania do chifre pequeno. Então, “o reino, o domínio e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo. O Seu reino será um reino eterno” (Dn 7:27). 

Consideremos as implicações importantes desses eventos futuros. Primeiro, o chifre pequeno perderá sua autoridade sobre os santos. Segundo, o juízo significa a vindicação do povo de Deus, os santos. O reino de Deus não é um reino isolado, confinado apenas aos domínios celestiais. Ele inclui os santos; em outras palavras, é o reino do povo de Deus. 

A questão é: como o reino de Deus se torna real para pessoas como Daniel, Marcos e nós? Daniel nos ajuda a responder a essa questão, iluminando nosso entendimento sobre um aspecto central do estabelecimento definitivo do reino de Deus. Esse aspecto central é a intervenção do Messias, o Príncipe (Dn 9:25). Daniel descreve que, no fim das 70 semanas proféticas, “o Ungido será morto” (Dn 9:26). “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana. Na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de cereais” (Dn 9:27). Jesus deu fim ao sacrifício levítico quando Se tornou o sacrifício. Assim, o povo do reino é comprado com o sangue do Messias (1Pe 1:18, 19). Pedro acrescenta outro elemento importante na linha do tempo divino ao dizer sobre Jesus: “Ele foi conhecido antes da fundação do mundo, mas foi manifestado nestes últimos tempos, em favor de vocês” (1Pe 1:20). A expressão “foi manifestado nestes últimos tempos” nos dá uma percepção importante para compreendermos Marcos 1:15, que abordaremos na próxima seção. 

O reino de Deus no evangelho de Marcos 

Marcos 1:14 e 15 afirma que “Jesus foi para a Galileia, pregando o evangelho de Deus. Ele dizia: – O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo”. Esses versos fornecem alguns elementos importantes para nossa consideração. Primeiro, a essência da pregação de Jesus era o reino de Deus. Esse tema é mencionado explicitamente em Mateus 4:23: “Jesus percorria toda a Galileia [...] pregando o evangelho do reino.” Em segundo lugar, o conteúdo de Sua proclamação era orientado em termos escatológicos: “O tempo está cumprido.” A que tempo Marcos se refere nessa passagem? Deve necessariamente ser o tempo da última semana da profecia das 70 semanas de Daniel 9. 

Em Marcos 1, o autor não define explicitamente o que é o reino de Deus, mas, em vez disso, nos oferece algumas informações valiosas, em Marcos 4 e nos capítulos seguintes, sobre a natureza desse reino. Além disso, Marcos apresenta o reino de Deus dentro de um intervalo de tempo profético. Talvez por essa razão, o evangelho de Marcos tenha sido identificado como “o evangelho do tempo cumprido” (veja Merling Alomía, Joel Leiva e Juan Millanao, eds., Marcos: El Evangelista del Tiempo Cumplido – Leyendo el Evangelio de Marcos: Su Mensaje en el Pasado y en la Actualidad [Lima: Ediciones Theologika, 2003]). 

Como entender as palavras “o reino de Deus está próximo”? A língua grega, usada por Marcos no seu evangelho, nos dá algumas pistas. A frase “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo” (Mc 1:15) diz, no original grego: “pepl?r?tai ho kairos kai ?ngiken h? basileia tou theou.” A conjunção kai é reconhecida especialmente como um elemento que liga duas palavras ou frases, e sua tradução mais comum é a conjunção “e”. Contudo, kai pode funcionar como uma partícula explicativa, geralmente chamada de “kai epexegético”. Isso significa que uma “palavra ou cláusula é conectada, por meio de kai, com outra palavra ou cláusula, para explicar o que vem antes dela e assim por diante”. Nesses casos, a palavra kai pode ser traduzida como “isto é, ou seja” (veja William Arndt, F. W. Gingrich e Frederick W. Danker, eds., A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature [Chicago, IL: University of Chicago Press, 2000], p. 495). 

Se Marcos 1:15 estiver dentro do último caso, podemos entender a frase desta maneira: “O tempo está cumprido, isto é, o reino de Deus está próximo” (grifo nosso). 

Em outras palavras, a vinda do reino de Deus significa que o tempo mencionado por Daniel estava se cumprindo. Nesse caso, Jesus Cristo personifica o reino de Deus, e essa interpretação está de acordo com a ênfase pragmática de Marcos. Em Marcos 1, o reino de Deus é o reino de Jesus Cristo, que veio, dentro da agenda profética divina, para proclamar as boas-novas da salvação. Assim, o reino de Deus envolve a redenção e a restauração da humanidade. Jesus foi questionado pelos fariseus sobre o momento em que o reino de Deus viria, e Ele respondeu: “Porque o reino de Deus está entre vocês” (Lc 17:21). Paulo também parece apoiar essa perspectiva ao escrever: “Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o Seu Filho, [...] para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4:4, 5). 

Jesus apela aos Seus discípulos para que creiam no evangelho a respeito do reino e se arrependam. O verbo grego metanoe? significa “arrepender-se” e tem o sentido de “ser convertido”, que é “um pré-requisito para experimentar o reino de Deus” (A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, p. 640). Tudo o que diz respeito ao anúncio de Jesus está centrado nessa questão. As pessoas são convidadas a crer no evangelho do Reino e aceitar-lhe. Essa foi uma prioridade no ministério de Jesus. Por exemplo, Ele exortou Seus discípulos dizendo: “Vamos a outros lugares, aos povoados vizinhos, a fim de que Eu pregue também ali, pois foi para isso que Eu vim” (Mc 1:38, grifo nosso). 

É nesse contexto que devemos ler as parábolas de Marcos 4 e o restante do livro de Marcos. Isto é, devemos entender esses textos como uma elucidação do “mistério do reino de Deus” (Mc 4:11). O substantivo grego myst?rion significa “o conteúdo daquilo que não era conhecido antes, mas que foi revelado a um grupo interno ou a um círculo restrito – um ‘segredo’” (Johannes P. Louw e Eugene Albert Nida, eds., Greek-English Lexicon of the New Testament: Based on Semantic Domains [Nova York: United Bible Societies, 1989], p. 345). Os “mistérios do reino dos Céus” foram revelados na primeira vinda de Cristo (Mt 13:11). O próprio Jesus esclareceu que não há mistério em Sua mensagem: “Porque não há nada oculto, senão para ser manifesto; e nada escondido, senão para ser revelado” (Mc 4:22). 

Esses “mistérios” do reino, que já não são mistérios, pois foram revelados, não seriam compreendidos por todas as pessoas. O evangelho (a semente) é espalhado por todos os tipos de solo, mas infelizmente nem todos os solos produzem os mesmos resultados (Mc 4:3-20). O desenvolvimento espiritual no reino de Deus é semelhante ao processo de crescimento de uma planta: “A terra por si mesma frutifica: primeiro aparece a planta, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga” (Mc 4:28). Esse desenvolvimento também inclui a colheita dos frutos: “E, quando o fruto já está maduro, logo manda cortar com a foice, porque chegou a colheita” (Mc 4:29). A seguinte ideia está implícita nesse conceito: antes de Cristo reunir as pessoas para o Seu reino, na colheita do fim dos tempos, Ele primeiro precisa lançar a semente, o evangelho, sobre o solo (Mc 4:26). O reino de Deus inicialmente parece pequeno; a semente parece insignificante. “Mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças; cria ramos tão grandes, que as aves do céu podem se aninhar à sua sombra” (Mc 4:32). 

O tempo cumprido, mencionado por Marcos no seu evangelho, começou quando o reino de Deus chegou na pessoa de Jesus Cristo em Sua primeira vinda. Cristo encarnado é a essência do evangelho, as boas-novas. Em cada aldeia que O acolheu, Jesus pregou sobre esse reino. Ele veio para lançar essa semente no solo de cada coração. Embora pequeno no começo, o reino se tornará imenso no fim. 

Jesus encoraja as pessoas a receber o reino nas circunstâncias atuais em que vivem: “Em verdade lhes digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele” (Mc 10:15). Em outras palavras, o Salvador incentivou as pessoas de Sua época e da nossa a viver no reino como uma experiência presente. No entanto, Ele deixa claro que o fim dos tempos ainda está por vir: “Em verdade vos digo que jamais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus” (Mc 14:25, ARA). A escatologia de Marcos está consciente do fato de que o “fim dos tempos” ainda é futuro. Contudo, Marcos enfatiza o reino e seu estágio inicial (ou experiência atual) durante a época em que o evangelho foi escrito. 

APLICAÇÃO PARA A VIDA 

Ellen G. White declara: “Todos os que se tornassem súditos do reino de Cristo tinham que demonstrar fé e arrependimento. Bondade, honestidade e fidelidade se manifestariam na vida dessas pessoas. Ajudariam os necessitados e levariam a Deus suas ofertas. Defenderiam os desamparados, dando exemplo de virtude e compaixão. Assim os seguidores de Cristo darão provas do poder transformador do Espírito Santo. Em sua vida diária, a justiça, a misericórdia e o amor de Deus serão vistos. Do contrário, serão como palha lançada ao fogo” (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 75). 

Peça aos membros de sua classe que respondam às seguintes perguntas tendo em mente a citação acima: 

  1. Como você está experimentando o reino de Deus neste momento? 
  2. Qual foi a reação das pessoas à primeira vinda de Jesus? 
  3. Pelo que você percebe, como as pessoas reagem e respondem ao ensino sobre a segunda vinda de Cristo? 
  4. Quão importante é o reino de Deus para a sua pregação do evangelho?