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COMENTÁRIOS DA LIÇÃO DA ESCOLA SABATINA

3º Trimestre de 2024 - O EVANGELHO DE MARCOS


Lição 3 – Controvérsias
Destaques do Pastor Eber Nunes #‎lesadv
A lição desta semana relata 5 histórias que se encontram nos capítulos 2 e 3 de Marcos;
Essas histórias apresentam as primeiras controvérsias entre Jesus e os escribas (Mc 2:6; 3:22), Jesus e os fariseus (Mc 2:24; 3:6) e Jesus e os herodianos (Mc 3:6);
Escribas, fariseus e herodianos representam 3 grupos que eram importantes na sociedade israelita durante o ministério de Jesus (os saduceus eram outro grupo, mas não aparecem nessa seção de nosso estudo);
Os estudiosos atestam que os fariseus e os escribas eram os líderes intelectuais da nação, vivendo em diversas regiões do país. Em certo sentido, os escribas e os fariseus representavam o setor acadêmico daquela época;
O desafio que Jesus enfrentava agora não eram as forças das trevas. Os demônios não desempenham papel ativo, nem têm poder real contra Ele, nessa seção da narrativa, além do que é mencionado em Marcos 3:11. O conflito que Ele enfrentava nessa seção era contra seres terrenos: os líderes espirituais e mestres da nação.
Curando um paralítico
“Entrou Jesus de novo em Cafarnaum, e logo correu que ele estava em casa” (Mc 2:1).
Quando podemos dizer que Jesus está em uma casa?
“Muitos afluíram para ali, tantos que nem mesmo junto à porta eles achavam lugar” (Mc 2:2).
Uma das evidências de ter Jesus em casa, é que a casa se torna uma atração aos outros.
“Alguns foram ter com ele, conduzindo um paralítico” (Mc 2:3).
Ser um deficiente naquela época era ter uma vida marcada por solidão e rejeição;
Os judeus acreditavam que toda doença era sinônimo de desobediência a Deus.
“Levado por quatro homens” (Mc 2:3).
Existem aqueles que nunca alcançarão a Cristo a menos que outros os carreguem;
Há alguns que são levados a Jesus pelos esforços de uma única pessoa, como André trouxe seu irmão Pedro. Mas esta narrativa mostra que há pessoas que, para serem apanhadas, necessitam da ação combinada de 2, 3 ou 4. Às vezes acontece que uma pessoa ouve Paulo pregar, mas a sua doutrina clara, embora ilumine a inteligência, não convence a consciência. Então ela ouve Apolo, e o apelo eloquente do orador aquece seu coração, mas não humilha seu orgulho. Mais tarde ela escuta Pedro que, com suas frases contundentes, esmaga seu orgulho e o convence do pecado, mas ainda precisa ouvir as palavras afetuosas de João para tomar uma decisão.
“E, não podendo aproximar-se dele, por causa da multidão, descobriram o eirado no ponto correspondente ao em que ele estava e, fazendo uma abertura” (Mc 2:1-12).
Os 4 carregadores estavam muito determinados a levar o paralítico até Jesus. A questão era como fazer isso? Sabemos que onde há vontade, há um caminho;
As casas palestinas tinham terraços. Esses terraços se usavam como um lugar tranquilo onde se podia até dormir à noite. O teto era apoiado sobre vigas plainas de 1 metro entre si. Sobre as vigas se colocava uma capa de ramos, coberta com barro calcado e a maior parte do teto era de terra. Fazer um buraco nesse teto, aproveitando o espaço entre duas vigas, não era tão difícil.
“Vendo-lhes a fé” (Mc 2:5).
O texto não destaca a fé do paralítico, mas a dos 4 carregadores;
Normalmente associamos a evangelização apenas com palavras. Estes homens não disseram uma palavra. Eles não pregaram, mas seguraram a maca;
Como alguém pode enxergar a fé? Assim como o amor, a fé se torna visível por meio das ações. Se houver algo de bom dentro de nós, Cristo certamente o verá.
“Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados” (Mc 2:1-12).
“Não era, entretanto, o restabelecimento físico, que desejava tanto, mas o alívio do fardo do pecado. Se pudesse ver Jesus, e receber a certeza do perdão e a paz com o Céu, estaria contente em viver ou morrer, segundo a vontade de Deus” (DTN, 267);
Para o judeu, o doente era um homem com quem Deus estava zangado;
Não é de admirar que o paralítico ansiasse por perdão! Não só a sua consciência foi torturada pelo remorso pelo seu passado, mas também pela crença de que ele estava excluído do favor de Deus. Isso explica por que Jesus antes de curá-lo, 1º o perdoou;
Segundo as próprias crenças dos expertos na Lei, um homem não teria podido ser curado a menos que fossem perdoados os seus pecados.
“O Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados” (Mc 2:10).
Jesus usou o título “Filho do Homem” com bastante frequência para Se referir a Si mesmo (aparece 14 vezes em Marcos). Em princípio, tanto este título como o de “Filho de Deus” serviam para denotar a sua natureza humana e divina. A ideia não é a de um “homem perfeito”, ou de um “homem ideal”, ou de um “homem comum”, mas uma referência a Daniel 7:13-14, quando o vindouro Rei da Glória, que está vindo, julgando o mundo, ele tem o título de “Filho do homem”.
“Eu te mando: Levanta-te” (Mc 2:12).
Qualquer enganador podia dizer: ‘Seus pecados estão perdoados’. Não havia forma de demonstrar se suas palavras eram verdadeiras ou não. Tratava-se de uma afirmação não verificável. Mas dizer: “Levanta- te”, era algo que os fatos, imediatamente, confirmariam ou refutariam.
O chamado de Levi e a questão do jejum
Imediatamente após o milagre da cura do paralítico, temos a descrição de outro milagre, a conversão de Levi, alguém que também foi convidado a se levantar. “De novo, saiu Jesus para junto do mar, e toda a multidão vinha ao seu encontro, e ele os ensinava. Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria” (Mc 2:13).
Levi é o nome que Mateus usava entre os judeus;
Ele era um publicano, palavra que no NT traduz o grego telones e significa basicamente ‘cobrador de taxas e impostos’;
O emprego de coletor de impostos era muito procurado, pois era uma forma segura de enriquecer rapidamente;
Os publicanos eram judeus que se colocaram a serviço dos romanos, então donos do país, para cobrar impostos de seus compatriotas. Eles adquiriram o direito de cobrar pagando integralmente o valor dos impostos exigido pelo governo. A partir daí, tentavam tirar tudo da cidade quando pudessem, sabendo que tudo o que cobrassem a mais seria para encher os bolsos;
Os coletores de impostos talvez nunca sejam apreciados pela comunidade, mas no mundo antigo, o sentimento de animosidade chegava ao ódio;
Até um escritor grego como Luciano, situa os cobradores de impostos junto com os ‘adúlteros, os estelionatários, os aduladores e os impostores’;
Quando um judeu ingressava na alfândega, era considerado um pária da sociedade; era desqualificado para julgar ou ser testemunha em sessão judicial, era excomungado da sinagoga e, aos olhos da comunidade, a sua desgraça estendia-se à sua família.
“Sentado na coletoria” (Mc 2:13).
Coletoria era o lugar de trabalho dos publicanos;
Deus muitas vezes chama homens que estão em lugares estranhos. Os bares e outros lugares semelhantes de mundanismo e pecado, às vezes têm sido palco da graça transformadora de Deus.
“Disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu” (Mc 2:13 a 22).
Jesus simpatizou com um homem que todo mundo odiava. Ofereceu sua amizade a um homem que qualquer um se envergonharia de ter como amigo;
Certamente, Mateus jamais tivesse podido aproximar-se dos judeus ortodoxos de sua época. Para eles era um homem impuro e não tivessem querido ter nada que ver com ele;
Jesus chamou Mateus enquanto caminhava à margem do lago. Até enquanto caminhava junto ao lago, Jesus estava procurando oportunidades para exercer sua missão. Jesus nunca baixava a guarda;
Entre todos os discípulos, Mateus é o que teve que abandonar mais coisas. Ele, entre todos, foi o que literalmente deixou tudo para seguir ao Mestre. Pedro e João, Tiago e André poderiam voltar para a pesca. Sempre haveria peixes no mar e sempre estaria aberto para eles sua antiga profissão. Mas Mateus queimou seus barcos por completo. Com uma ação, em um instante, mediante uma rápida decisão tinha perdido definitivamente seu meio de vida, porque tendo abandonado uma vez sua tarefa de cobrar impostos, jamais poderia voltar a consegui- la. É preciso um grande homem para tomar uma grande decisão, mas para todos chega o momento de decidir;
Diz-se que Mateus deixou atrás de si todas as coisas menos uma: sua pena. Os eruditos não criam que o Evangelho do Mateus, tal como nós o temos na atualidade, seja obra exclusivamente deste apóstolo.
“Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram em grande número e também o seguiam” (Mc 2:13 a 22).
Muitos pensam que esta foi uma “festa de despedida” que Levi deu aos seus amigos quando deixou o seu negócio de cobrança de impostos;
Levi Mateus comemorou sua nova fase fazendo um banquete em sua casa (Mc 2:15; Lc 5:29). E chamou seus amigos, os publicanos, obviamente. Para os judeus, até mesmo entrar na casa de um publicano tornava uma pessoa imunda. Por isso, eles questionaram os discípulos de Jesus sobre o fato de comerem na casa de um publicano, com publicanos;
É curioso que nas duas cenas que Marcos descreve, encontramos Levi sentado a uma mesa: na 1ª ele estava sentado à mesa de tributo público roubando os seus companheiros judeus, enquanto na 2ª ele estava sentado à mesa da sua casa partilhando o evangelho com seus amigos.
Em seu desprezo e desconforto, alguns ainda questionaram: “Por que motivo jejuam os discípulos de João e os dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?” (Mc 2:18).
O jejum no sentido religioso é uma abstinência voluntária de alimentos para fins religiosos;
Para os judeus mais estritos, o jejum era uma prática regular. Na religião judaica havia somente 1 dia do ano em que era obrigatório jejuar, e esse dia era o Dia da Expiação. O dia em que o povo confessava seus pecados e era perdoado, era o dia de jejum por excelência. Mas os judeus mais estritos jejuavam 2 dias por semana, as segundas-feiras e as quintas-feiras. Este jejum durava das 6 da manhã às 6 da tarde;
O problema com os fariseus era que na maioria dos casos o jejum não era mais que uma maneira de demonstrar sua piedade ante outros. Para chamar a atenção dos homens para sua própria bondade. No dia de jejum, eles ficavam de cara triste e andavam com a roupa desordenada para que ninguém pudesse deixar de dar-se conta de que estavam jejuando e para que todo mundo visse e admirasse sua devoção. E jejuavam para que Deus pusesse atenção em sua piedade. Esperavam que mediante este ato de piedade não exigido Deus se fixasse neles. Seu jejum era um ritual e um ritual para sua própria exibição;
Para ter valor o jejum não deve ser consequência de uma obrigação ritual; deve ser expressão de um sentimento do coração.
“Respondeu-lhes Jesus: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles?” (Mc 2:13 a 22).
Jesus faz uso de uma imagem muito vívida para dizer aos fariseus por que seus discípulos não jejuavam. Depois dos casamentos judeus daquela época o casal recém-casado não saía em viagem de lua-de-mel. Ficavam em sua casa e durante 1 semana a casa estava aberta a todos seus amigos e durante todo o tempo se celebrava a alegria das bodas. Em uma vida que geralmente era bastante dura a semana de bodas era a semana mais feliz da vida de um homem. Para essa semana de felicidade os convidados especiais eram os amigos do noivo e da noiva, a quem lhes chamava filhos da câmara nupcial. Jesus compara seu reduzido grupo de seguidores com aqueles convidados escolhidos de uma festa de bodas, os filhos da câmara nupcial. De fato, havia uma regra rabínica segundo a qual ‘todos os que assistem ao noivo nas bodas serão relevadas de seus deveres religiosos durante o tempo que dure a festa, na medida em que aqueles pudessem diminuir seu gozo’. Os convidados às festas de bodas estavam excetuados da obrigação de jejuar;
Jesus ainda fez uma declaração tremenda sobre si mesmo: no AT, Deus frequentemente se apresentava como o marido de seu povo Israel (Is 62:5; Ez 16:8; Os 2:19 e 20), e neste momento Jesus está dizendo que ele mesmo era aquele Noivo que Israel esperava. João Batista já havia reconhecido esse mesmo fato (Jo 3:28-29).
“Ninguém costura remendo de pano novo em veste velha; porque o remendo novo tira parte da veste velha, e fica maior a rotura. Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres” (Mc 2:13 a 22).
A ilustração que Jesus usou foi fácil de entender: um pedaço de pano forte costurado numa roupa usada só piora o rasgo;
Naquela época não havia garrafas, então usavam peles de animais costuradas, eram os odres a que Jesus se referia. Quando os odres eram novos tinham uma certa elasticidade; mas à medida que envelheciam, tornaram-se duros e não cediam. Se o vinho em fermentação fosse colocado em odres velhos e fracos, eles estourariam. A força do vinho novo exigia odres novos e resistentes;
Na época de Lutero já não era possível remendar os abusos da Igreja Católica Romana. A hora da Reforma havia chegado. Na época de John Wesley, pelo menos para ele, o tempo para remendar a Igreja da Inglaterra já havia passado. Ele não queria ir embora, mas no final teve que ir, porque só uma nova forma de viver a vida cristã poderia ser suficiente;
Chega um momento em que não se pode mais continuar colocando remendos e precisa considerar tudo novamente.
Senhor do sábado
“Ora, aconteceu atravessar Jesus, em dia de sábado, as searas, e os discípulos, ao passarem, colhiam espigas” (Mc 2:23 e 28).
Em um dia normal, isso era permitido (Ex 23:24). Enquanto o viajante não usasse uma foice, podia arrancar espigas com a mão. Mas os discípulos o estavam fazendo em dia sábado, e o sábado estava protegido com centenas de leis e regulamentos minuciosos. No sábado era proibido todo tipo de trabalho. Os trabalhos tinham sido classificados sob 39 categorias e 4 destas eram segar, ventilar, debulhar e preparar uma comida. Mediante sua ação os discípulos, de um ponto de vista técnico, tinham quebrantado estas 4 regras, e portanto deviam ser considerados transgressores da Lei;
Os fariseus imediatamente lançaram sua acusação e assinalaram que os discípulos de Jesus estavam quebrantando a Lei ;
Jesus lhes respondeu usando sua própria linguagem. Citou, então, a história que nos é contada em 1º Samuel 21:1-6. Davi estava fugindo para salvar sua vida. Chegou ao santuário de Nobe e pediu algo de comer; mas não havia nada, exceto os “pães da proposição”. Estes eram 12 pães que deviam colocar-se em uma mesa dourada que media 1 metro de comprimento, 0,5 metro de largura e que tinha uma altura de 0,5 metro. A mesa estava no tabernáculo e o pão era considerado uma espécie de oferta a Deus. Ele era mudado uma vez por semana; quando o pão velho era mudado, era propriedade dos sacerdotes e somente destes (Ex 25:23-30), isto é, ninguém que não fosse sacerdote podia comê-lo (Lv 24:9). Entretanto, quando Davi teve necessidade desse pão, tomou-o e comeu. Jesus demonstrou que as próprias Escrituras apresentam um precedente, pelo menos, onde a necessidade humana prevaleceu sobre a Lei divina e humana;
O homem não foi criado por Deus para ser vítima e escravo do sábado, mas as normas e regulamentos em torno da celebração do sábado foram criadas para que a vida do homem fosse mais plena e melhor. O homem não pode estar escravizado ao dia de repouso; o sábado existe para que sua vida seja plenamente humana;
A religião não consiste em regras e normas;
A 1ª reclamação que qualquer ser humano está obrigado a atender é a reclamação da necessidade humana. A melhor maneira de adorar a Deus é ajudando as pessoas;
A melhor maneira de fazer uso das coisas sagradas é pondo-as a serviço dos que padecem necessidade. Esse é o único modo autêntico de dá-las a Deus;
As doutrinas da graça são boas, mas a graça das doutrinas é melhor.
“De novo, entrou Jesus na sinagoga e estava ali um homem que tinha ressequida uma das mãos. E estavam observando a Jesus para ver se o curaria em dia de sábado” (Mc 3:1 a 6).
Foi um ato de valentia, da parte de Jesus, voltar para a sinagoga;
Os fariseus estavam ali como uma espécie de polícia religiosa que estudava cada passo dado por Jesus e seus discípulos;
Era sábado e nele estava proibido todo tipo de trabalho, incluindo o trabalho de curar. A lei judaica era muito clara e precisa com respeito a isto;
No sábado só podia oferecer-se atenção médica se a vida do doente corria perigo;
O mais que se podia fazer era impedir que a ferida piorasse, mas não se podia curá-la;
A mão do homem estava seca, mas pela misericórdia de Deus eles pôde usar os pés para ir ao culto público, e Jesus o encontrou ali;
A vida do homem da mão paralítica não corria perigo algum. Fisicamente não teria piorado se se adisse a cura por mais um dia. Para Jesus, entretanto o caso era um desafio, e o enfrentou com decisão. Pediu ao homem que ficasse de pé e que se adiantasse até onde todos pudessem vê-lo. Duas razões, provavelmente, moveram Jesus a dar essa ordem ao doente. Possivelmente Ele tenha querido fazer um último esforço para despertar a simpatia do público para aquele homem, fazendo que todos pudessem ver sua desgraça. E por certo, queria dar o passo que estava a ponto de dar sem que a ninguém passasse inadvertido o significado de sua ação.
“É lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal? Salvar a vida ou tirá-la? Mas eles ficaram em silêncio” (Mc 3:1 a 6).
Jesus os pôs em um dilema. Estavam obrigados a reconhecer que era lícito fazer o bem, e o que Jesus se propunha fazer era um bem;
Então Jesus, com uma palavra de poder divino, curou o homem. Os fariseus, imediatamente, começaram a tramar com os herodianos para assassinar a Jesus.
Ao Jesus ensinar que “o sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2:27), e que Ele é o Senhor do sábado (Mc 2:28), e que no sábado é lícito fazer o bem e salvar vidas (Mc 3:4), Ele não “aboliu” o 4º mandamento, mas mostrou o seu verdadeiro sentido. Ele não veio abolir os mandamentos de Deus, os quais Ele mesmo guardava. E Ele espera que os que O amam os guardem também (Mt 7:17; Jo 14:15; 15:10).
Durante o Seu ministério público, Jesus foi repetidamente acusado de violar o sábado, mas nunca foi acusado de abolir a guarda do sábado.
História em formato de sanduíche – parte 1
“Quando os parentes de Jesus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si” (Mc 3:20 a 35).
Essa é a 1ª de 6 vezes em que Marcos usa uma estrutura literária chamada “sanduíche”;
Essa estrutura mistura duas histórias para que o leitor procure por similaridades, diferenças e contrastes entre elas. Assim como um sanduíche consiste basicamente em um recheio e duas fatias de um pão, a “estrutura de sanduíche” começa uma história contada apenas em parte (é a 1ª fatia do “pão”). Então a 2ª história é contada inteira (esse é o “recheio” do sanduíche, sendo a parte principal). Logo depois, após a história do “recheio” ser concluída, então a história que havia sido interrompida é continuada e concluída (essa é a 2ª fatia do “pão” desse “sanduíche” literário).
A estrutura fica assim:
3:20-21 – História 1, 1ª fatia: os parentes de Jesus dizem que Ele está “fora de Si”;
3:22-30 – História 2, recheio: os escribas acusam Jesus de ter associação com Belzebu;
3:31-35 – História 1, 2ª fatia: os parentes de Jesus mandam chamá-Lo.
1ª fatia: os parentes de Jesus dizem que Ele está “fora de Si” (Mc 3:21):
O que fez a família de Jesus pensar isso dele? Talvez porque tenha abandonado a segurança e a tranquilidade da carpintaria de Nazaré para se tornar pregador itinerante, ou porque ele estava a caminho de uma colisão frontal com os líderes religiosos judeus. Talvez porque os amigos que ele escolheu não parecessem muito recomendáveis;
Sem dúvida, esse tipo de desprezo quando vem de um amigo ou familiar é muito difícil de enfrentar;
Como o mundo mudaria se todos os cristãos estivessem “fora de si” como Jesus estava;
A história sobre os parentes de Jesus é momentaneamente interrompida para discutir a reação de outro grupo muito importante: “os escribas”.
Recheio: os escribas acusam Jesus de ter associação com Belzebu (Mc 3:20 a 25);
Marcos nos diz que esses escribas “tinham vindo de Jerusalém”. Presumimos que os escribas da província da Galiléia tenham solicitado ajuda aos doutores da lei em Jerusalém, a fim de neutralizar a grande influência que o Senhor Jesus exerceu na Galiléia. É possível também que estes fossem emissários oficiais do Grande Sinédrio;
Esses líderes religiosos tinham a responsabilidade de fornecer alguma explicação para as obras surpreendentes que Jesus realizou. Qual seria a sua atitude? Os milagres eram fatos, como questioná-los? O que eles iriam dizer sobre Jesus?!
Eles decidiram acusar Jesus de estar possuído por Satanás, não por algum demônio, mas pelo próprio Satanás. Belzebu: Este nome refere-se claramente a Satanás;
A expressão aponta para algo mais do que uma aliança mas para posse, e em larga escala.
“Jesus, lhes disse, por meio de parábolas: Como pode Satanás expelir a Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir; se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir. Se, pois, Satanás se levantou contra si mesmo e está dividido, não pode subsistir, mas perece” (Mc 3:20 a 35).
Jesus mostrou que se Ele fosse um agente de Satanás e estivesse trabalhando contra Satanás, então certamente o reino de Satanás estaria em guerra civil e não poderia durar.
“Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa” (Mc 3:27).
É como se Jesus dissesse: “Eu não estou sob o domínio de Satanás. Em vez disso, estou provando que sou mais forte que ele”;
Nesta parábola, Satanás é o homem forte que cuida do que lhe pertence. O ministério de Jesus foi derrotar este homem forte, no caso de expulsar o demônio do homem mudo, e no sentido mais amplo. Jesus olhou para cada vida libertada do domínio de Satanás e disse: “Estou saqueando o reino de Satanás, uma vida de cada vez”. Não há nada em nossa vida que deva estar sob o domínio de Satanás. Aquele que amarra o homem forte e que poderá saquear sua casa é o nosso Senhor ressuscitado;
Jesus é muito mais poderoso que o diabo, tem o poder de amarrá-lo e também de desfazer todas as suas obras: (1ª Jo 3:8);
O propósito final do Senhor é libertar as almas e os corpos dos seres humanos que estão sob o domínio de Satanás. É isso que ele quer dizer quando diz que “saqueia sua casa.
Os escribas tendo todas as evidências diante deles, disseram que Jesus estava possuído pelo próprio Satanás. Diante disso, Jesus lhes fez uma advertência muito dura: “Aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre” (Mc 3:20 a 35).
Esses homens ainda não haviam cometido o pecado imperdoável. . . Caso contrário, Jesus nunca os teria avisado;
Entendemos o que é a blasfêmia contra o Espírito Santo, primeiro entendendo do que se trata o ministério do Espírito Santo. A respeito do ministério do Espírito Santo, Jesus disse: “E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8), e que dará testemunho de mim” (Jo 15:26);
O Espírito Santo tem duas funções principais: Revelar-nos a verdade de Deus e nos levar ao arrependimento. Portanto, quando acusaram Jesus de estar possuído por demônios, eles estavam resistindo à revelação que o Espírito Santo lhes estava dando sobre o Senhor Jesus Cristo e a natureza de suas obras (Jo 16:8-11). O Espírito Santo apresentou diante deles o testemunho mais claro possível da Pessoa de Cristo; se eles o rejeitassem conscientemente, não havia mais nada que Deus pudesse lhes oferecer. Se o que Deus fez por eles para trazê-los à salvação foi interpretado por eles como obra do próprio Satanás, o que mais Deus poderia fazer contra isso? Com isto fecharam definitivamente a porta ao Espírito Santo;
A blasfêmia contra o Espírito Santo nunca será perdoada – não porque seja um pecado “muito grande” para Deus perdoar, mas porque é uma atitude do coração que não se importa com o perdão de Deus. Ele nunca tem perdão porque nunca deseja o perdão;
Que ninguém abuse desta doutrina ao ponto da presunção ou da audácia em pecar, porque a misericórdia de Deus é grande e suficiente para perdoar todos os pecados;
Temos que ter cuidado para não transformar a graça de Deus em devassidão;
O relato deixou claro que o Espírito Santo é uma Pessoa e que é Deus;
Lembremo-nos de que o Senhor se dirigia a pessoas muito religiosas, moralmente rectas segundo os padrões do mundo, meticulosas nas suas expressões religiosas.
História em formato de sanduíche – parte 2
“Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3:31 a 35).
Jesus fez esta declaração olhando aos seus seguidores, homens e mulheres que, apesar das suas limitações, se submeteram à vontade de Deus;
O ser humano sempre teve a tendência de idealizar os laços carnais que uniam Jesus à sua família terrena, especialmente à sua mãe, mas Ele priorizou os laços espirituais;
O requisito para fazer parte da sua família espiritual é fazer a vontade de Deus;
Jesus colocou o relacionamento espiritual acima de todos os relacionamentos familiares e os interesses de seu Pai antes de todos os laços naturais. Mas ele foi ainda mais longe, chegando ao ponto de dizer que não aceitaria como discípulo ninguém que amasse mais a sua família terrena do que ele: “Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, e mãe, e esposa, e filhos, e irmãos, e irmãs, e até mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14:26);
É verdade que também temos que ter cuidado para não nos isolarmos dos nossos familiares, principalmente quando eles não conhecem a Deus, nem usar esta passagem como desculpa para não passar tempo com a família. Somente quando os membros da nossa família tentam impedir nossa obediência a Deus é que isso deve ser praticado.
Paralelos entre os relatos da história em formato de sanduíche:
A família de Jesus parecia ter uma visão semelhante à dos escribas: a família dizia que Ele estava fora de Si, enquanto os escribas diziam que Ele estava aliado ao diabo;
Na história interna, Jesus diz que uma casa dividida contra si mesma não pode subsistir. À primeira vista, parece que na história externa a casa de Jesus, Sua família, está dividida! Mas Jesus resolve esse enigma ao redefinir o conceito de família afirmando que os que fazem a vontade de Deus junto com Ele são Sua família (Lc 12:53; 14:26).
Conclusão:
No livro O Desejado de Todas as Nações, Ellen G. White escreveu que os irmãos de Jesus “desejavam que Ele cedesse às ideias deles, quando esse proceder teria estado completamente em desarmonia com Sua missão divina. [...] Pensavam que, se falasse unicamente coisas aceitáveis aos escribas e fariseus, evitaria a desagradável controvérsia que Suas palavras despertavam. Pensavam que Ele estivesse fora de Si ao reivindicar autoridade divina e ao Se colocar diante dos rabinos como reprovador de seus pecados”. Ela continua: “Essas coisas tornaram árduo o caminho que Jesus devia trilhar. A falta de compreensão em Seu próprio lar era tão difícil que Cristo sentia alívio quando ia aonde isso não existia.” Em seguida, Ellen G. White faz o apelo: “Aqueles que são chamados a sofrer por amor a Cristo, que têm de suportar falta de compreensão e desconfiança, mesmo na própria família, podem encontrar conforto ao lembrar que Jesus sofreu a mesma coisa. Ele sente compaixão por essas pessoas. Convida-as a serem Suas companheiras e a buscar alívio onde Ele próprio o encontrava: na comunhão com o Pai” (DTN, 254, 255).
“Embora meu pai e minha mãe me abandonem, ainda assim o Senhor me acolherá” (Sl 27:10).
Louvo a Deus pelas maravilhosas lições que podemos aprender de Sua Palavra e é por isso que sou apaixonado pela Escola Sabatina! #lesadv